A pesquisa Datafolha, que ouviu 8.433 pessoas em 313 municípios do país nesta segunda (20) e terça-feira (21), em uma parceria do jornal Folha de S.Paulo e Rede Globo de Televisão, traz basicamente os mesmos números, no que se refere as intenções de voto a presidente da República, na eleição do próximo dia 7 de outubro, que a pesquisa Ibope de dois dias anteriores, contratada pela TV Globo e jornal O Estado de S.Paulo, quando foram ouvidos 2002 eleitores. O resultado de ambas as pesquisas está disponível nos portais dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e TV Globo.
Ao ver este dado, de um número 4 vezes maior de entrevistados de uma pesquisa para outra, fiquei me perguntando: O que significa, na prática, uma pesquisa ter 4 vezes mais eleitores pesquisados do que a outra?
Em busca de uma resposta com credibilidade, conversei com o sorocabano Victor Trujillo que há 24 anos trabalha com Pesquisa de Mercado e Ciência do Consumo. Ele é diretor-geral do Ipeso (Instituto de Pesquisas Sorocaba), consultor, palestrante, professor da ESPM há 17 anos onde coordena os Cursos de Férias e Itinerantes. É autor do livro “Pesquisa de Mercado Qualitativa e Quantitativa” – Ed. Scortecci, 2001, coautor do livro “Curso de Propaganda – Do Anúncio a Comunicação Integrada” – Ed. Atlas, 2004. Psicólogo, formado em Propaganda e Marketing pela ESPM, pós-graduado em Política e Estratégia pela USP, MBA em Marketing pela ESPM, Professional Member of American Marketing Association – A.M.A., cursou a A.M.A. School of Marketing Research – University of Notre Dame – USA, participou do 7th Annual Congress on Customer Satisfaction (A.M.A.) – Washington, D.C. – USA.
Pergunta: Victor, o que muda numa pesquisa, como a do Ibope, que ouviu 2002 eleitores, para uma pesquisa como a da Datafolha, que ouviu 8300 eleitores?
Resposta: Pela Teoria Estatística, uma amostra maior poderá reduzir a margem de erro da pesquisa, porém, na prática esse suposto “ganho” na margem de erro é irrelevante por dois motivos centrais: 1º) as Abstenções. Na eleição de 2014, a ausência do eleitor na urna chegou a 29%, portanto é pelo menos 10 vezes maior que a margem de erro típica das pesquisas nacionais; 2º) o número de Indecisos. A quantidade de eleitores que não sabe, ainda, em quem vai votar é muito grande, ou seja, na resposta espontânea 39% dizem que estão indecisos. Portanto, quadruplicar o número de pesquisados, como fez o Datafolha em relação ao Ibope, não demonstra qualquer utilidade prática para uma margem de erro menor pois o que retira a precisão da pesquisa não tem relação com margem de erro, mas com o número de indecisos.
Apenas para ilustrar que estou dizendo: O Brasil tem 147 milhões de eleitores neste ano. Se tivermos o mesmo patamar de abstenções de 2014 (cerca de 29%), serão 42,6 milhões de brasileiros que não comparecerão às urnas no 1º turno. Restariam 104 milhões de eleitores dos quais 39% estão indecisos (a resposta espontânea tem mais força para revelar a indecisão do que a estimulada que permite ao eleitor aderir). Portanto, neste momento, a 45 dias das eleições, 63,6 milhões de eleitores já se “simpatizam” com algum candidato. Outro dado que a pesquisa demonstra é que dos 147 milhões de eleitores aproximadamente 83,4 milhões ou estão “indecisos” ou talvez não compareçam. Ou seja, trata-se de um cenário infértil para a precisão estatística das pesquisas eleitorais. Por isso é importante a leitura CORRETA das pesquisas agora: colocar as pesquisas no lugar delas. Elas são úteis e necessárias para FOMENTAR o debate político. E, na minha opinião, para chamar a atenção do eleitorado sobre o percurso da opinião pública nada melhor do que as pesquisas para que o eleitor possa se interessar pelas eleições, para assistir aos debates e se informar sobre os programas de governo etc. Pesquisa é pesquisa e tem o seu papel na democracia. Cabe ao eleitor, entre a pesquisa e o voto, poder mudar de opinião enquanto não digitar a tecla verde Confirma na urna eletrônica. Depois é conviver com o resultado da democrática escolha.