A escola deve ser local de pertencimento. Não gaiola

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Minha casa foi furtada, acho que já disse isso aqui, há três anos e levaram uma pasta com documentos, HD externo dos meus arquivos de computador, diplomas… que eu guardava na gaveta embaixo da minha cama.

Depois veio a pandemia e tudo fechou e eu não me mexi para tirar a segunda via de tudo que foi levado.

Agora preciso dos meus diplomas de Mestrado e Graduação.

A situação é a seguinte: Para a 2° via do diploma de Mestrado, preciso do diploma de Graduação. Para a 2° via do diploma de Graduação, preciso dos diplomas e históricos escolares (disciplinas por mim cursadas e notas por mim recebidas) do então 1° e 2° graus hoje chamado de Fundamental e Médio. Preciso para ambos os diplomas de Graduação e Mestrado da Certidão de Nascimento. O RG não serve.

Logo eu que sempre guardei tudo bem organizado para não precisar procurar quando fosse necessário usar, como agora, tudo isso é um transtorno.

Primeira surpresa, a Certidão de Nascimento não significa nada se você casou, então toca ir atrás da Certidão de Casamento. Essa também não significa nada se você se divorciou.  Então meu roteiro, e para quem ficar nesta situação, é: Certidão de Casamento com averbação do divórcio num cartório. Com esse documento vou a outro cartório para a emissão da Certidão de Nascimento devidamente cadastrada com as ações depois de ter nascido.

E o RG? Penso que os leitores devem estar se perguntando. Bom, ele é importante (esse não foi furtado) para que nos cartórios se inicie o processo para a emissão da 2° via do documento atestando que eu nasci. Não quero nem imaginar o que seria necessário se nem o RG me tivesse restado.

Importante frisar que é o MEC quem exige das faculdades este documento inicial da vida de qualquer um para a emissão do documento confirmando que me graduei em uma e pós graduei em outra.

MEC… Ministério da Educação!

Por coincidência essa é a pasta comandada até recentemente por Milton Ribeiro que nesta segunda-feira tentou tirar a munição da sua arma, que estava dentro da sua pasta, no balcão da  Latan no aeroporto de Brasília e a arma deu um tiro acidental. Por sorte, alguns estilhaços apenas. Ferimentos leves numa funcionária.

Parece um enredo kafkiano.

Toda esse périplo, fosse contado por Franz Kafka, e certamente entraria na literatura pela porta da frente graças ao talento desse checo que pode ser entendido no Brasil graças à tradução do sorocabano Modesto Carone à Língua Portuguesa. Se você não leu, leia seus livros O Processo, Josefina A Cantora, A Metamorfose…

Mas esse périplo é contado por mim. Então ele não é literatura, se limita a ser o que é, ou seja, mais uma cena da cidade que busca mostrar qual é a nossa cultura.

E, confesso, apesar de ter falado até aqui da burrocracia, não é ela que me desencantou.

O que doeu foi o que encontrei nas escolas onde passei dos 7 aos 15 anos: Grades na entrada de cada estabelecimento. Entrei na EEPGP Genésio Machado, localizada na rua Miguel Sutil, na 1° série, aos 7 anos de idade, em 1974. Antes de ir a este prédio, essa escola ficava num acanhado endereço. O novo prédio era aberto, onde estudei, a visão se perdia no horizonte nos edifícios no centro de Sorocaba. Ontem, ao ser atendido numa janelinha, cercada por grades, me bateu uma tristeza daquelas… O grande vão de acesso das escadarias ao pátio está fechado por um portão de ferro intransponível… Câmeras filmam toda a movimentação… Assustador! Mas é uma estética tão incorporada ao cotidiano que não intimida os adolescentes que se pegavam na mesma mureta onde um dia eu também descobri do que é capaz de fazer conosco o fervor dos hormônios. Uma estética que educa.

Na EEPSGP Júlio Bierrembach de Lima, bem atrás da 14° CSM, Circunscrição do Serviço Militar, onde fui solicitar histórico e certificado do 2° grau, a escola virou igualmente uma gaiola. Foi o jeito encontrado para proteger o ambiente dos vândalos.

Vândalos? De onde vieram? Onde nasceram? Quem são seus pais?

Não paramos para pensar porque são geradas tanta gente incapaz de amar, portanto proteger, a escola. Gente que invade as casas alheias, como fizeram com a minha.

As grades e câmeras são paliativos. O amor à escola só virá quando todos sentirem-se pertencendo a elas. E só o amor protege.

Prestes a fazer 55 anos de vida, eu sei que não viverei para ver isso!

Mas não vou desistir dessa luta, a única que realmente importa.

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