Maria Teresa Ferreira, militante do movimento social e luta antirracista da Região Metropolitana de Sorocaba, ativa colaboradora deste blog, volta a contribuir com sua reflexão sobre o momento pelo qual a sociedade está passando, tendo negligenciado o isolamento social, avanço do CoronaVírus e necessidade do fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde)
Boa Leitura!
Por Maria Teresa Ferreira
Todos nós, em algum momento, ouvimos ao sair de casa: “Leva o guarda-chuva, vai chover”. Invariavelmente voltamos para casa ensopados, porque deixamos o guarda-chuva lá, guardado.
É dessa forma que me sinto ao ouvir os noticiários, ensopada. Afogada, não pelas das conhecidas tempestades de verão e sim, da ignorância que atesta a ausência completa de consciência coletiva.
A segunda onda do coronavírus é um dado matemático, por esta razão está sendo anunciada desde antes das festas de final de ano. O que me espanta é a displicência das pessoas em se manter na retomada daquilo que insistem em chamar de vida normal.
As consequências dessa postura é o que vou chamar aqui de “Efeito Cascata”. No ano passado o estado do Amazonas foi quem primeiro apresentou o aumento da taxa de ocupação e da média móvel de casos de coranavírus. O estado hoje está suspendendo as atividades presenciais e reabrindo os hospitais de campanha, com o agravante de que o número de mortes está maior do que no início da pandemia.
No estado de SP, e aqui em Sorocaba, a situação não é diferente, ainda que a oferta de leitos tenham aumentado em menos de 24 horas, os profissionais de saúde estão absolutamente esgotados. O colapso do sistema de saúde está mais perto de ocorrer do que imaginamos. Logo menos, a exemplo de Minas Gerais, não teremos profissionais suficientes para tender a demanda que está se apresentando a cada hora mais grave.
A situação na Europa e nos EUA também é alarmante, principalmente porque se descobriu uma mutação do vírus, essa tem a capacidade de contaminação duas ou três vezes maior do que a sua primeira versão, inclusive no Brasil já temos dois pacientes em observação contaminados por essa variação.
A diferença é que desse lado do Atlântico as negociações sobre o laboratório contratado para o fornecimento da vacina estão na ciranda do desencontro entre o Palácio do Planalto e as autarquias da área da saúde. O processo de imunização brasileiro não conseguiu vencer a etapa da licitação de compras de seringa, enquanto isso ao redor do mundo mais de 12 milhões de pessoas já foram vacinadas, segundo a plataforma criada pela Universidade de Oxford, Our World in Data. (https://ourworldindata.org/covid-vaccinations?utm_source=meio&utm_medium=email)
O governo do Estado de São Paulo já comprou uma quantidade expressiva da vacina e também estabeleceu um calendário de vacinação para trabalhadores da saúde, indígenas, quilombolas e idosos. Os laboratórios particulares também já se encontram em franca negociação para compra de vacinas.
A pergunta que fica é: se você não mora no estado de SP e não tem dinheiro para se vacinar em laboratórios particulares, como você vai ficar diante da necessidade de imunização?
Entendeu porque é preciso fortalecer o SUS!!!!!!!!!!!!!!!!!!
As concentrações das ações de combate a pandemia estão intimamente ligadas a responsabilidade governamental, ou seja, os países têm em seus chefes de estado a
autoridade maior para tomada de decisões que garantam o bem-estar da população. Na medida que um chefe de estado abre mão das prerrogativas decisórias do seu cargo, em detrimento de se colocar no lugar de um cidadão comum para dar vazão a sua ignorância, ele precisa ser responsabilizado por isso porque pessoas estão pagando com a vida pela sua boçalidade.
O descrédito do governo Bolsonaro em relação a seriedade da pandemia do coronavírus é absolutamente criminoso, isso gerou em grande parte da população brasileira o negacionismo a respeito da letalidade do coronavírus. O uso da máscara já caiu em desuso para algumas pessoas e em alguns lugares. A frase “estamos seguindo todos os protocolos de segurança” extrapolou as essencialidades e pode ser ouvida em qualquer lugar, inclusive nas festas particulares que aconteceram no Ano Novo em todo Brasil.
Tudo isso resultou na ausência de um plano de combate a pandemia desde o início organizado e gerido pelo governo federal. Ao contrário disso declarações como “é só uma gripezinha”, foram uma constante. Quando o número de mortos ultrapassou 100 mil se ouviu foi “não sou coveiro”. A incapacidade de compreensão, ação e assertividade do governo federal a respeito da pandemia é estarrecedora e tem causado prejuízos incalculáveis a vida da população.
Particularmente, adoro os remakes de clássicos do cinema norte americano porque, hoje em dia, os recursos cinematográficos são infinitamente mais modernos, dando as películas fotografia e cores que valorizam ainda mais a história e as interpretações. Recomendo assistir Rebecca (foto) na Netflix.
Nesse momento revivemos a direção de péssima qualidade da história da pandemia no Brasil. Repetindo os erros de continuidade. Reforçando a leviandade da má interpretação. Deixando pra trás a ótima oportunidade de reler, rever e protagonizar cenas de importância histórica na vida da população brasileira.
Acredito que os mais velhos ao final sempre têm razão por isso vou retomar o conselho que abriu esse texto e complementa-lo com as orientações do OMS “sai somente se for de extrema necessidade, leve o guarda-chuva e use máscara”
Maria Teresa Ferreira é do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Sorocaba; conselheira da Unegro (União de Negros pela Igualdade de Sorocaba) e militante do movimento social e luta antirracista da Região Metropolitana de Sorocaba.