A morte de Lolita Rodrigues no último domingo, seguramente, foi a última despedida afetiva e emocional que eu tenho de minha mãe, morta em 2014. Não sei se ainda está viva alguma outra artista que me faça lembrar dela. Entre os homens, apenas Sílvio Santos e Faustão estão por aqui.
Lolita, e seu marido Airton Rodrigues, apresentavam no sábado no comecinho da tarde um programa de auditório na televisão bastante interessante, chamado “Almoço com as Estrelas”. Era literalmente o que diz o título do programa.
Eu não gostava, mas assistia junto com minha mãe porque eu só podia sair de casa 14h, quando abria a piscina do Estrada. Ela sempre queria saber não apenas o que era servido para comer e beber como também as roupas das pessoas, como as mulheres estavam vestidas. Era sempre um banquete com diferentes pratos e talheres. Mas a principal atração não era o almoço, mas as estrelas: Cantores e cantoras da vez. Eram músicas românticas e não pop. A Jovem Guarda estava em alta e não existia o agronejo e nem sertanejos. Nem lambada. Nem aquelas “músicas” tipo é o tchan e boquinha da garrafa. Muito menos o funk.
Ainda bem!
“Almoço com as Estrelas” tinha a estética conservadora que agradava totalmente a família cristã. Assim como eram “Flávio Cavalcanti”, “Sílvio Santos” e em anos mais recentes “Hebe Camargo” e depois “Faustão”.
Por ali passavam Nelson Ned, Antônio Marcos, Vanusa, Agnaldo Rayol… Quando o programa acabou, me lembro da indignação de minha mãe. E dela culpar Airton Rodrigues. Ele havia pedido o desquite. “Ele não presta”. Essa foi a sentença de minha mãe, um tom assustador para a criança que eu era. Esse homem não presta! Essa frase me marcou a infância. Anos depois, eu já tinha uns 12, ela falou o mesmo de um homem careca que apareceu no “Jornal Hoje”, Nelson Carneiro, senador que segundo minha mãe havia aprovado o divórcio no Brasil.
O tempo passou e minha mãe mudou com ele. Esses homens, Airton e Nelson Carneiro, continuaram não prestando, mas ela aceitava bem os casais que se separavam.
Lolita, Hebe e também Nair Bello, trio que marcou um dos episódios do Jô Onze e Meia, fizeram parte da vida de minha mãe quando ela não tinha nem 45 anos. Eu nem 8 tinha, mas estava na sala fazendo alguma coisa e de vez em quando espiando a TV.
Lolita estava com 94 anos quando morreu. Se fosse viva, minha mãe também teria essa idade. Ambas nasceram em 1929. Lolita devia ser a última artista da geração de minha mãe ainda viva. Me surpreendi em ler notícias sobre a sua morte. No geral, passado o sucesso, a tendência é que a pessoa e o que ela teve de influência sejam esquecidos. O que é normal. Cruel, mas da nossa cultura. É assim em qualquer profissão.