Se tem uma coisa que me irrita ultimamente é ver janelas e carros com a bandeira ou cores do Brasil como se apenas os adoradores do atual presidente fossem brasileiros e reconhecessem o símbolo nacional. A irritação acontece porque isso é mentira.
Me lembro, aos 8, 9 anos, de ser obrigatório o uso de um brasão no guarda-pó, o uniforme nas escolas estaduais nos anos 70. Os alunos mais velhos, de 13 e 14 anos, se revoltam com aquela necessidade. Eu gostava, afinal torcia pela seleção brasileira e, na minha infantilidade, as duas coisas eram uma só. Apenas anos depois vim a entender o que era o simbolismo daquele pedacinho de tecido preso por um alfinete. Vim a entender a padronização, a uniformização, a imposição por um modelo que impedia, não reconhecia, não aceitava os diferentes.
Ao acaso, ontem, me encontrei com um sujeito que defendia à época, e segue defendendo hoje, esse autoritarismo. Um sujeito que já teve votos suficientes para ter sido vereador em Sorocaba. Ele teve a pachorra de me dizer que não existiu ditadura, tortura e repressão em Sorocaba. “Era só andar na linha. A polícia só dava porrada em baderneiro”, ele me disse. Textualmente, ele me disse isso.
Esse conhecido não consegue ver, ler, enxergar, sentir, entender… o que ele próprio diz. Ou seja, alguém, no caso o governo do presidente ou líder do regime, traça uma linha e quem ousar sair dela é reprimido. Esse colega e tantos outros “normalizaram” esse absurdo.
Triste! O que faz eu seguir, além de óbvios motivos dos laços familiares, é a possibilidade do que está por chegar. É uma espera pelo inesperado. É a fantasia de que um dia esse colega olhe para trás e apenas capte a atrocidade que ele apoiou. Mas é apenas fantasia, pois se em 45 anos ele não foi capaz disso, apenas minha fantasia para achar que em mais 30 ele consiga… Mas o que é a vida senão o fantasiar a realização dos desejos! A morte é a impossibilidade da fantasia. Nesse sentido sigo bem vivo.