Bênçãos 

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Sentindo-se muito bem consigo própria, um orgulho de sua conquista, que transparecia no semblante do seu rosto de quase 9 anos, minha neta me contou que na tarde anterior ela foi de casa à portaria, sozinha, de bicicleta. 

Sua missão foi bem sucedida: Trazer até a mãe dela a encomenda entregue pelos Correios.

São 700 metros a distância de casa até a portaria. Um trajeto com sinalização, calçamento e câmeras de segurança. Fica dentro de um condomínio. Mais seguro que isso, só se ela não saísse de casa.

Quem é a responsável por ela, é a mãe. Todos os sins e nãos são da mãe. Quando ela vai à casa do pai, nos finais de semana, ele fica no comando.

Eu só observo.

Demonstrei orgulho e satisfação à minha neta pela conquista dela, pois é isso o que sinto.

Entendo que reafirmar a ela a confiança que ela está sentindo reforça a confiança dela com ela própria que, no final, é o que importa. 

Creio que consegui expressar a alegria e orgulho que senti dela quando ela me contou o seu feito. 

Eu sei que agora virá a segunda vez que ela sairá sozinha e sucessivamente as infinitas vezes.

Eu não sou capaz de dizer qual o momento número 1 de quando minhas filhas saíram sozinhas e nem a idade. Sei apenas que eu via o mundo com mais confiança. Não acreditava que algo pudesse lhes acontecer. Não imaginava alguém se colocando como ameaça a nenhuma delas. Eu fui pai aos 22 anos a primeira vez. E com 25 na segunda. Eu era uma pessoa confiante…

Nem sempre foi assim. Quando eu tinha 3 anos nos mudamos de casa, para outra na mesma rua, na Vila Santana, e meu pai arrumou um cachorro. Ele ficava no quintal. Lá era a sua vida. Solitário. Nunca via outro cachorro. Não tinha passeio na coleira. Mas era ligeiro quando via uma fresta e corria com velocidade e energia para a rua. Então eu chorava… Muito. Era desproporcional. Desesperado. Eu não confiava que ele voltaria. Eu não suportava a sua ausência. Minha alegria era saber que ele estava em casa e no lugar dele. 

Hoje minha alegria é ver filhas e neta tomando conta de suas vidas. É curtir o processo da chegada da nova neta, prima da que já está aqui, prevista para fevereiro. Mas com boa chance de adiantar.  É a vida plena e em movimento. Não há existência na estagnação.

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