Hoje, primeiro dia da Quaresma, começo da Campanha da Fraternidade cujo o tema deste ano é a Educação, e eu testemunho uma cena que exemplifica bem esses nossos tempos.
Um jovem, eu arrisco a dizer que ele tem no máximo 27 anos de idade, terminou de passar a sua compra pelo caixa do supermercado Dia na rua Luiz Mendes de Almeida no Jardim São Paulo, zona oeste de Sorocaba, e ele pediu a nota fiscal para conferir se o que ele havia comprado era o que a funcionária do caixa havia passado. A caixa, uma menina de no máximo 20 anos, arrisco dizer, explicou que ela não pode tirar a nota da máquina.
Então ele esbravejou.
Foi a primeira alteração de sua voz. Total falta do bom senso que se espera de um cliente. E gritou: é meu direito saber se está certo o que você está cobrando de mim. A caixa, então, lhe disse: você pode dar a volta e vir no meu lugar e ver, só não posso destacar a nota da máquina registradora.
Aí o jovem esbravejou pela segunda vez. Agora com mais violência e agressividade: Você fique quieta. Ele se dirigiu a sua esposa, mulher, namorada, amiga… enfim, uma menina que não tinha 18 anos, e era sua acompanhante. Ao contrário dele, um branco, cabelo castanho, óculos escuros, do tipo que estudou em escola particular e se gabava de colar na prova pra passar de ano (o conhecimento claramente nunca foi um valor para ele), a menina tinha os olhos esbulhados e claramente estava constrangida.
Foi a vez dele, então, esbravejar comigo, parte interessada na confusão entre outras razões por eu ser o próximo a passar no caixa e ir embora com minha taubaína, muçarela e calabresa para a noite da pizzinha da minha neta. Arrisquei a dizer o óbvio: você não precisa desconfiar dela, você paga, confere e se você vir algo errado, ela faz o ressarcimento do seu prejuízo. Ele não me disse nada, mas berrou com a caixa: então faz assim…
Enquanto eu passava e pagava, ele conferiu. E descobriu que a moça do caixa, de fato, errou. Mas a favor dele. O surtado deveria devolver 30 centavos para ela por causa da sua banana prata que ele havia trocado por nanica.
Então, ele passou do esbravejamento para o surto. Não vou te devolver nada. Não fui eu quem errei. E eu, pasmado, ouvi ele dizer: essa porra (sic) ficou em 141 conto (sic)… não comprei nada. O PT acabou com o Brasil. Tamo fudido (sic) e tem gente querendo o Lularapio (sic) de novo.
A moça do caixa, que certamente precisa muito do salário que recebe, engoliu todo aquele constrangimento e pediu para ele dar licença para o próximo cliente.
Quando lhe disseram que Bolsonaro está há 3 anos e 2 meses como presidente e os preços dispararam no governo dele, o jovem disse: isso é o que a Globolixo quer que a gente acredite.
Ele foi embora gritando viva o Bolsonaro.
Eu fui embora triste, na certeza de que não há campanha alguma, nem mesmo da Fraternidade, capaz de mudar tamanha imbecilidade.