O lixo acumulado nos conteineres, mal-cuidados, sem tampa, há semanas sem ser coletado, exala mau-cheiro, atrai insetos, pombos e talvez roedores (esses só aparecem à noite).
É lixo de bairro de um dos IPTUs mais caros da cidade. Mostra o consumo. Indica que as pessoas estão comprando comida. Comprova os bons números da economia dos últimos meses.
O lixo é o verdadeiro indicador da prosperidade de uma cidade. Latas, tambores, conteineres vazios indicam queda de consumo, o que não é o caso, pois eles estão transbordando. São muitos comendo. E muito. Os conteineres lotados e suas pombas mostram isso.
Mas ainda há muitos sem comida. Domingo passado, me chamou a atenção a quantidade de mendigos, vendedores de paçoca, bombom, gente desconectada da sociedade… na feira, fuçando as sobras.
Gente que lota o conteineres de lixo e gente disputando sobras com as pombas. Gente acostumada com essa realidade de gente comendo muito e fazendo regime para emagrecer e gente que não se importa em comer um resto de pastel, sem recheio, uma goiaba passada, uma banana preta de tão madura.
Penso na pressa de quem come mais açúcar e sal do que precisa. Penso na letargia de quem fuça as sobras. Penso que por razões distintas ambos deixam de sentir o sabor do que levam à boca.
De um lado o imenso apelo para que se coma. Há propaganda e cores estimulantes. Há celebração. Há receitas e ingredientes. Há o modismo. Há abundância de fotos do prato gourmet feito em casa ou da mesa do restaurante no Instagram e Facebook.
De outro, só a fome.