Comecei a semana com uma bofetada na cara

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Passei com o carro e achei que tivesse visto uma pessoa saindo de dentro de um desses contêineres de lixo, na rua Barão de Tibagi, quase na esquina com a João Francisco Neves, no bairro Barcelona, em Sorocaba. Parei o carro e olhei pelo retrovisor. Havia uma mulher lá e com uma criança. Ela havia se debruçado no lixo para pegar de dentro o que via com valor.

Estão mais comuns estas cenas, ultimamente.

E elas me machucam.

Lembrei que tinha 10 reais na carteira, dei ré, abri o vidro e ofereci o dinheiro à mulher. Ela estava com as duas mãos ocupadas, carregando sacolas plásticas transparentes, dessas de supermercado. Dentro de uma, pude ver, tinha pacotes de arroz e feijão. A mulher foi imperativa: ó lá fia, pega lá.

E a menina, meiga como toda criança, aparentando menos de 5 anos, esticou seu bracinho e me alcançou dentro do carro, de onde nem saí. Ela pegou o meu dinheiro. E continuou andando, com ele na mão, nem mesmo deu à mãe que já estava uns passos à frente.

Tive o ímpeto de chorar!

Não puxei conversa com elas como, normalmente, eu faria. Nem perguntei o nome de nenhuma delas. 

Racionalmente pensando, acho que ninguém deve ajudar gente como essa mãe e filha. Acho que elas devem se revoltar. Quando ganham 10 meus, arroz e feijão de outro, aproveitam algo do lixo… assim levam a vida.

O tempo passa e nada muda.

E nada vai mudar. A mãe foi clara na sua lição de hoje para a sua criança. Talvez a mesma que tenha recebido da sua mãe: filha, pode pegar dinheiro quando alguém te oferecer. Filha, gente como a gente ganha esmolas. 

Me senti muito mal. E passadas as horas, confesso, não me recuperei. Por que a mãe não me agradeceu? Não acredito que tenha sido falta de modos dela. Ao contrário, foi uma forma de dizer: é, sim, sua obrigação a de cuidar de gente como eu. Você é rico, tá limpinho e cheiroso, dentro do carro, dormiu numa cama quente, já tomou café da manhã. Tem de tudo e exagera. Exagera tanto que tá gordo.

Não houve governo capaz de mudar isso até agora. Nem os 23 anos dos militares. Nem os 15 anos do PT. Nem esses primeiros 500 dias do governo de extrema-direita.

A mudança necessária não é da economia, mas da cultura. A lição de uma mãe para um filho deve ser: estude e trabalhe; trabalhe e ganhe; empreenda e ganhe; guarde e tenha; invista e multiplique… Nunca o de que a esmola é bem-vinda. Mesmo que ela seja o que, claramente, era o caso de hoje.

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