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Caio Fernando Abreu, numa carta que escreveu a um amigo sobre seu amor por Clarice Lispector e a literatura que ela fazia, explicava sobre a entrega do autor à escrita e uma série de atributos ao que pode ser chamado de literatura…

No final dessa carta ele fazia a seguinte indagação: “… ou você prefere fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na Cultura, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa?”

Sábado passado bons amigos, aos poucos, chegaram ao bar Sacrilégio (hoje muito melhor frequentado do que a Cultura em sua fase pré-declínio e absoluta extinção) no lançamento de “O Filho do Açougueiro”. Minha filha mais velha e sua filha, minha neta, foram as primeiras a chegar.

Não havia uísque, apenas vinho e para quem não aprecia a opção era a cerveja Barra Funda, que eu não conhecia e é de produção do MST, pelo que me relataram. A comida era personalizada, tipo uma rodela de salame com uma fatia de carambola. Havia aquela sopa de beterraba com creme de leite também. Tem um nome chique, mas não me lembro qual é. Não foi a maior festa.

Eu gelei quando uma pessoa ameaçou, com meu livro em riste: Vou ler, viu! Não precisa, eu lhe disse. E ela me olhou de uma forma estranha antes de dar uma sonora gargalhada. Foi tão alto, um tom bem acima do ambiente, que uma amiga me perguntou depois: O que você disse de tão engraçado para aquele cara?

Só virou uma festa quando minha editora foi embora com os livros. Me deu um alívio. 

Então chegou um comprador de última hora. Queria um livro. Ele não entendeu que não tinha mais. Minha editora me ligou e pediu pra eu vender um dos meus a ele. Eu desconversei. O comprador era o poeta Celso Alencar. Ele declamou dois de seus poemas. Sem vergonha alguma. Em voz alta. Seguro de sua obra.

Eu estava acolhido entre quatro amigas, Ana, Célia, Damaris e Deise. Elas lembravam situações de época da faculdade. Elas contavam histórias de suas vidas. Elas lembraram do meu amigo Carlos Magno, morto tão precocemente, o que o fez reviver naquele momento. 

Então, como foi o lançamento em São Paulo? Foi tudo bem. Havia verdade ali. E hoje em dia eu prezo muito por isso. Eu que pretendia ficar uma hora ali, acabei ficando quase seis. Sim, foi tudo bem. Foi ótimo.

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