Salman Rushdie faz parte da minha vida pela figura midiática que se tornou graças a gigantesca exposição que ele passou a ter nas mídias dos anos 90 (jornal, revista, rádio e TV) de um momento para o outro.
Seu livro “Versos Satânicos” foi proibido no Irã em 1988 e ninguém soube. Os líderes muçulmanos daquele país consideraram uma blasfêmia o conteúdo da sua literatura. Um ano depois, o então chefe supremo iraniano, o aiatolá Khomeini pediu a morte de Salman, oferecendo uma recompensa ao assassino como forma de reparar o que Salman havia escrito.
Foi, então, essa sentença de morte que deu início a avalanche de notícias em torno de Salman. Os editores dos veículos de comunicação transformaram em saga a sua fuga. Reportagens perguntavam: Onde está Salman?
Seu proibido livro se tornou um dos mais vendidos em todo o Planeta (duvido que tenha sido lido na mesma proporção). Salman e seus editores ficaram muito ricos com as vendas provocadas por toda a publicidade em torno dele.
Chegou o século 21 e com ele também as redes sociais. O fato virou mercadoria instantânea e todo e qualquer critério jornalístico ficou em segundo, terceiro, quarto plano. E, neste contexto, ninguém mais falava de Salman. Se pensava que três décadas depois, essa questão de sua sentença de morte, estava resolvida.
Não estava.
Na tarde de sexta-feira em Nova York ele foi foi esfaqueado quando estava prestes a dar uma palestra em Nova York.
Um fanático de 24 anos rompeu o nervo do seu braço e cegou-o de um olho.
Esse fato não é algo distante ou que não diga respeito a cada um de nós. Esse ataque é uma atitude que obriga as pessoas de bom-senso a colocarem em debate, como prioridade, o papel da sociedade e de seus dirigentes, diante da responsabilidade de cada um em seus pronunciamentos.
Pergunta: O que foi a morte de um policial petista em sua festa de aniversário em Foz de Iguaçu, semanas atrás, senão um fanático cumprindo o incentivo (não uma ordem expressa como foi a de Khomeini contra Salman) do presidente?
Meu desejo é que o ataque a Salman em NY e a morte do policial petista em Foz nos mostrem que por conformismo, indiferença, medo, idiotice, burrice…estamos nos transformando em cúmplices da violência dos manipuladores dos fanáticos.
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