No dia em que a revista britânica “The Economist” – considerada por muitos como a bíblia do liberalismo econômico – exibe na capa de sua mais recente edição o candidato à presidência da República Jair Bolsonaro como sendo “a última ameaça da América Latina”, recebo um recado, de uma querida amiga, militante fervorosa do PT, jornalista e sindicalista bem sucedida, me chamando a atenção para a forma respeitosa como trato o candidato Bolsonaro na coluna O Deda Questão que vai ao ar diariamente no Jornal da Ipanema, pela manhã, e no Flash News, no período da tarde, ambas na rádio Ipanema (FM 91.1Mh).
Minha amiga se irrita de eu tratar Bolsonaro como uma pessoa “normal” e chama a minha atenção: “Dançando com o fascismo, Deda! Cuidado com o pisão no pé!”
Sou crítico de Bolsonaro há anos e, sinceramente, nunca entendi que ele tivesse força para reunir em torno de si o chamado antipetismo que mobiliza parcela significativa da sociedade brasileira. Por ser crítico, chego a ser perseguido nas redes sociais por militantes cegos e ouvintes radicais que não se cansam de me acusar de esquerdopata, petista, lulista, comunista, socialista e outros istas.
Para entender esse sentimento contraditório que tenho despertado nos ouvintes pró-PT e pró-Bolsonaro, pedi a um amigo, que se tornou nas últimas semanas defensor fervoroso de Bolsonaro, uma reflexão sobre a forma como os adversários, e agora a revista The Economist, enxergam Bolsonaro como sinônimo do fascismo. Esse amigo é empresário bastante bem-sucedido e professor universitário por paixão.
Ao trazer a crítica do PT e da revista The Economist, e a defesa feita por esse bolsonarista amigo, acredito ser essa uma maneira de se entender o que está acontecendo com o eleitor neste momento do Brasil.
O que diz a revista
A The Economist, em resumo, efetua uma análise do presente momento vivido pelo Brasil e declara que “a economia é um desastre, as finanças públicas estão sob pressão e a política está completamente podre”. E, por fim, tece uma comparação entre o presidenciável Bolsonaro e o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, opinando que “se a vitória for para Bolsonaro, um populista de direita, o Brasil corre o risco de tornar tudo pior”. Trecho da opinião da revista afirma: “Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina”.
O que diz a petista
Minha amiga, a militante fervorosa do PT, me diz: “Escrevo a você sobre como você trata o Bolsonaro. Acho que a consciência é de cada um. Mas, para mim, é como tratar Hitler e Mussolini como seres humanos. Assim como na Itália, que após a Operação Mãos Limpas subiu ao poder o que existia de mais aterrorizante na sociedade, aqui a Operação Lava Jato parece ter “dado vida” às viúvas da ditadura e ao que há de mais repugnante no ser humano”. E ela finaliza chamando a minha atenção: “Dançando com o fascismo, Deda!! Cuidado com o pisão no pé!”
O que diz o bolsonarista
Meu amigo, o militante fervoroso de Bolsonaro, me diz: “Acho que você, Deda, tem um viés socialista sim, preocupado com o cidadão menos favorecido etc etc. Mas vejo você também interessado num estado mínimo. Se olharmos para o atual PT, você decididamente não é um PTista.
Eu não sei exatamente o que é ser petista. Já foi claro isso no passado, mas desde o momento que boa parte do PT adotou práticas fisiológicas e até corruptas, as principais características do PT se perderam. Quais eram? A defesa do trabalhador, o forte viés social, a seriedade e crítica ferrenha aos corruptos.
Aliás, não vejo hoje um partido com as suas características de pensamento sobre a economia e a sociedade. Não é porque você quer algo impossível, mas porque a situação atual dos partidos pós operação mãos limpas tupiniquim deixaram eles absolutamente desmoralizados. Como ser socialista e roubar o dinheiro de impostos?
Sobre o outro ponto: não acho que o Bolsonaro seja o fascismo, e explico: Fascismo, por definição, é uma forma de radicalismo político, autoritário e nacionalista. Nacionalista já disse ser o Ciro por exemplo. Nacionalismo é uma forma de aproximação e identificação com uma nação. O país precisa disso, os USA e a França são nacionalistas. O que não é bom é o nacionalismo extremado, aquele que mantém sua economia fechada por exemplo, e isso o país já é um pouco. País burocrático, caro, muitos impostos etc etc. Tudo isso afugenta outros países de fazer negócio com a gente. Somos o país número 25 em comércio exterior. Que nacionalismo pode ser pior que isso? França e USA são nacionalistas na forma de se identificar com o país, mas não na economia.
Falando agora do candidato, um deputado federal, já várias vezes eleito pelo povo, não mostra nenhuma característica autoritária, muito pelo contrário, acho ele um boa praça, brincalhão, que as vezes perde a medida é exagera. Não está envolvido em casos e corrupção, não tem contra ele condenações por atos autoritários ou agressões físicas que seja. Ele tem limitações culturais é verdade, mas tem a disciplina e ética que o país precisa recuperar e difundir.
Quanto ao medo de um eventual governo Bolsonaro? Bom, cachorro mordido de cobra tem medo até de linguiça. Tenho medos de todos estes candidatos que estão aí, cada um deles por razões parecidas ou diferentes.
Porém de todos os atuais candidatos, o Bolsonaro é o que me dá menos medo. Como administrar, por exemplo, com o Valdemar da Costa Neto num partido (caso de Alckmin)? Como ser governado por um presidente que terá que ir a um presídio receber instruções do seu guru (caso de Lula)? Como ser governado por um candidato como o Ciro, completamente destemperado?
Nem que seja por exclusão, Bolsonaro é o menos ruim.
Tenho medo de um novo presidente do eixo PT-PSDB-MDB-PDT, que ao ganhar, mais uma vez terá o ódio de pelo menos 50% dos eleitores, que já estão furiosos desde 2014.
O Bolsonaro é limitadíssimo culturalmente, e certamente será ridicularizado pela imprensa como foi o Itamar por exemplo, mas não vejo riscos institucionais.
Riscos e medos existem hoje, com um presidente envolvido em alguns casos sérios de corrupção.
Ele vai colocar 3 ou 4 Generais como ministros, mas ele sabe que tem uma oportunidade única de colocar esse país nos trilhos. Não vejo nele traços de um psicopata, mas sim de um bobalhão que estava no lugar certo, na hora certa, e com o apoio das forças armadas, que é uma instituição adotada pelo povo no mundo todo, num país carente de ética e civilidade.