Dentro e fora

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Bem que poderia existir uma escova que a gente passasse no cabelo quando é bem pequeno e depois não precisasse mais pentear…

Acho que foi isso o que ouvi minha neta dizendo à mãe dela depois de mais um dia de chororô e resmungo antes de ir à escola. 

A mãe adora o cabelo dela, liso com grandes ondas nas pontas.

Por ignorância, e muita imprudência, eu levei essa minha filha, quando ela tinha míseros 10 anos, ao cabeleireiro para fazer alisamento. Era um desejo dela que não gostava dos seus cabelos encaracolados. É um cabelo igual ao meu, quando eu os tinha. Ela não gostava porque na escola todas colegas tinham cabelos lisos. E, claro, porque alisavam. Somos, de algum modo ou geração, resultado genético do envolvimento do imigrante que aqui veio por vontade própria com daqueles que vieram forçados da África, como escravos.

O alisamento é um processo químico bruto. Eu não fazia ideia. E, claro, ela passou mal. Se intoxicou. Sou capaz de dizer que correu o risco de perder a vida. 

O cabeleireiro, que era meu aluno na faculdade de Comunicação, também não tinha ideia do quanto uma criança poderia passar mal com tanta química no couro cabeludo.

Isso explica, eu acho, a dedicação da minha filha ao cabelo da filha dela todo dia, sem exceção, antes de ir à escola. Ela revive, evidentemente que inconscientemente, os problemas eu ela enfrentou devido ao seu cabelo. 

Minha neta, pela natureza ter lhe dado um cabelo que todo mundo admira, vê seu cabelo como um cabelo apenas. Assim como todos nós vemos um dedo como um dedo apenas. Nariz não serviria de exemplo, pois me assusta a quantidade de pessoas que implica com essa parte do corpo. Um fenômeno que não é exclusividade nossa. Na série Três Irmãs, que se passa em Seul, uma delas, a mais nova, tem como meta “fazer” o nariz.

Minha neta pensou nessa “escova mágica”, mas poderia ter pensado numa solução mais óbvia, ao meu ver: Por que temos cabelo? Ou: Vou cortá-lo. A bisavó dela, mãe da nanna, fez isso. Uma foto mostra o cabelo tosado e a lembrança é justamente essa, cabeças quase raspada.

O mágico, a imaginação, é próprio da minha neta. Que seja preservado! No caso do cabelo, quando for ela quem vai decidir, imagino que ela vá se render ao mais banal que existe: o uso de um monte de creme. Quando eu era criança, não raro, corria no mercadinho Scatena comprar uma bisnaguinha de creme rinse cor de rosa para minha irmã. Hoje em dia há infinidade de tipo de condicionador (imagino que seja um grande poluidor, pois se parece com óleo), mas nenhum que limpe o que algumas pessoas carregam dentro de suas cabeças. Infelizmente!

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