Desconfie é a palavra de ordem da ideologia em curso

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Almir Santos, que não conheço, tem dois anos a mais do que eu (seu perfil na rede social indica que ele é de 1965, natural de São Caetano do Sul), morador de Sorocaba e me parece que seja alguém real (essa foto acima é a que ele coloca em seu perfil), em comentário na minha última postagem afirma: “No mínimo duvidoso este seu relato, tem vídeo?”

Além do comportamento sem senso do comprador, relatado por mim na última postagem, o que me chamou de fato a atenção foi ele ter começado toda a discussão no supermercado porque ele desconfiou da moça do caixa. Achou que ela poderia estar prejudicando a ele.

Almir e o jovem do meu relato na postagem passada tem em comum um aspecto que me chama muito a atenção: Desconfiança. Esse sentimento se tornou a principal característica ideológica do movimento que vinha sendo gestado, mas explodiu em 2013 com as ações que tomaram as ruas da capital paulista com quebradeira de fachadas de lojas, bancos e ônibus.

Quando simpatizantes antagônicos de Bolsonaro e Lula se unem no uníssono GloboLixo, eles apenas externam a essência desse novo momento que é o de desconfiar, não acreditar, entender que o outro, antes de tudo, quer meu mal. É isso o que Almir expressa com o seu comentário sobre o que relatei. Eu não afirmo o que ele acredita, então, desconfie dele… Meu dinheiro não dá para comprar tudo o que eu quero, então desconfio que a moça do caixa quer levar um pouco do pouco que eu tenho…

Quando digo que o que explodiu em 2013 foi gestado antes, penso no momento em que eu era assessor do então prefeito Vitor Lippi, ainda em seu primeiro mandato, e ele surpreendentemente passou a negar a política, queria se posicionar como o antipolítico. Eu me escandalizei com aquilo. Resisti e evidentemente como lado mais fraco (o eleito pelo voto sempre será o lado forte) fui sendo colocado de lado. E porque Lippi queria ser o antipolítico? Porque todos sentiam ou pressentiam que a sociedade queria dar um basta nos políticos e Lippi, no melhor momento de sua carreira, queria fugir daquela sanha. Para ele poderia ser bom (nem vou discutir se foi) fugir, mas para a sociedade, certamente, não. Era preciso resistir para evitar que chegássemos onde chegamos e ainda estamos.

Os políticos são essenciais para o regime democrático, eles exageraram e ainda exageram fazendo do ofício um meio para eles próprios, mas esses são os maus políticos e devem ser banidos. De preferência pelo voto.

Bolsonaro e os bolsonaristas levaram essa desconfiança ao extremo, negando o STF (Supremo Tribunal Federal). Depois de ataques intensivos, ultimamente, eles refrearam o ímpeto, mas ainda é possível ver um meme, um manifesto solto nas redes sociais de negação (desconfiança) do trabalho do judiciário.

A retomada do equilíbrio social, onde os que pensam diferente poderão novamente ocupar o mesmo espaço em harmonia, só será possível quando um lado começar a confiar no outro. Mas me parece que isso nem começou ainda a ser gestado, o que significa que a próxima década será muito parecida com os dias atuais.

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