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Na fila do caixa da padaria na manhã desta sexta-feira, um senhor aparentando ter entre 55 e 65 anos, calçando chinelos, dedos e calcanhares marcados pela exposição à cal, resolve puxar papo com dois soldados da Polícia Militar, aparentando cada um deles ter entre 25 e 30 anos.

Ele não disse bom dia, olá ou qualquer outra interjeição para abordá-los. Foi direto: Tem Clube de Tiro em Sorocaba? 

Os dois jovens PMs, como é da função deles, se olharam cheio de desconfiança, mas depois de segundos resolveram aceitar o diálogo. Um disse que conhecia em Salto e o outro citou três bairros sorocabanos onde ele sabia que havia.

É para minha filha, disse o homem. Ela sai cedo de casa e quer se proteger. 

Há quatro anos, uma pergunta como essa era inimaginável. O uso de armas por civis se popularizou a partir de incentivos e investidas do presidente Bolsonaro. Na mesma proporção que ele incentivou o uso de armas de fogo ele demonizou a cultura.

Meu pai acordava cedo e ia para o trabalho no seu açougue muitas vezes às 3 horas da manhã. Ele nunca teve carro e não havia ônibus neste horário, ou seja, ele ia trabalhar a pé. Nunca soube o motivo, mas um dia ele aventou a possibilidade de ter um revólver. Minha mãe implorou e ele nunca teve. Ter arma potencializa a chance de se tornar um assassino. É isso o que viramos quando tiramos a vida de alguém!

Eu fui o primeiro secretário da Cultura em Sorocaba. Entre os argumentos que eu usava para influenciar a decisão de criar a secretaria, que foi do então prefeito Vitor Lippi em 2005, era que tal pasta tinha o potencial de provocar inclusão social e afastar os jovens das drogas. Sempre faltou eficiência em transformar essa visão em ação, reconheço. Isso não quer dizer que não seja boa. Me lembro da Biblioteca Comunitária que o Josué, um jovem morador, criou no bairro Laranjeiras na zona norte. Me lembro também de um Clube de Leitura que existe por iniciativa de moradores do local no Jardim Magnólia na zona oeste. 

No domingo, não posso fugir dessa temática, o que vai estar em questão é o modelo de futuro que queremos. Inclusive, o que está por trás da pergunta do pai aos PMs na manhã de hoje na padaria: o medo que a filha dele sente ao sair de casa ainda de madrugada para trabalhar.

Em tempo, amanhã, é dia de festa: Em 29 de outubro, comemora-se no Brasil o Dia Nacional do Livro. A data remonta à fundação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Neste dia, em 1810, foi trazido para o Brasil um enorme acervo da Real Biblioteca Portuguesa, que deu origem à instituição

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