O prefeito Crespo apresentou em audiência pública realizada na última segunda-feira sua pretensão em transformar o entorno do histórico Casarão de Brigadeiro Tobias (leia abaixo sobre sua importância para a história e memória nacional) em um complexo educativo e ambiental, o chamado Parque Casarão do Brigadeiro.
A Secretaria de Planejamentos e Projetos admitiu que ainda não existe orçamento disponível e nem mesmo prazos estabelecidos para a efetivação do projeto. Só sonho!
O prefeito disse que a ideia de implantação do complexo educativo e ambiental partiu do jornalista, historiador e escritor sorocabano Sérgio Coelho de Oliveira, um dos maiores defensores do culto à memória do ciclo tropeiro, lembrando que no Casarão, ao menos nominalmente, funciona o Centro Nacional de Estudos do Troperismo.
Prefeito se esqueceu
Mas o prefeito Crespo se esqueceu de dizer que ele teve participação ativa, quando deputado estadual, na intervenção que essa região de Sorocaba sofreu quando da duplicação do trecho da rodovia Raposo Tavares, que passa pelo local.
Quando a obra de duplicação estava em curso, em 2005, o então deputado Crespo posicionou-se contrário à iniciativa da Viaooeste de alterar o projeto de duplicação da rodovia Raposo Tavares, na região de Brigadeiro Tobias, deixando de construir o contorno para dar seqüência à pista rente à ferrovia. O custo da obra para a Viaoeste com essa alteração cairia.
Preocupado com o atraso da obra – que a posição do então deputado Crespo poderia ocasionar e com o custo normal do projeto original, portanto sem a mudança que acabou prevalecendo –, José Braz Cioffi, então diretor-presidente da Viaoeste em 2005 (quando a empresa ainda não era parte integrante, como é hoje em dia, do consórcio CCR) pediu a ajuda do então prefeito Vityor Lippi para que ficasse ao seu lado nesse embate. E para celebrar este pedido, Cioffi foi recebido em audiência pelo prefeito, na qual eu fiz parte, afinal eu era naquele momento o secretário da Cultura que, entre outras atribuições, tinha o patrimônio histórico (como é o caso do Casarão de Brigadeiro) sob minha responsabilidade.
Foi feita a vontade da Viaoste e a duplicação, a que existe até hoje, saiu contrariando a posição do então deputado Crespo.
Como ficou claro no pronunciamento oficial de Crespo, à época de 2005, a Viaoste assumiu (e disso eu fui testemunha na audiência) o compromisso de restaurar não apenas o Casarão em si, mas o entorno dele: “(…)A Viaoeste tem acenado a possibilidade de restaurar dois patrimônios históricos, a estação ferroviária e o casarão de Brigadeiro Tobias(…)”
Eu fiz ao menos duas visitas técnicas na época acompanhado dos engenheiros da prefeitura e da Viaoeste.
Em setembro daquele ano de 2005 eu deixei o governo para ser o editor do jornal Bom Dia.
E o Casarão não teve compensação alguma por parte da Viaoeste.
E agora, em pleno 2019, quando o então deputado Crespo é o prefeito da cidade, ele lança a idéia de transformar o entorno do histórico Casarão de Brigadeiro Tobias em um complexo educativo e ambiental (a mesma ideia de 2005) sem sequer citar que havia expresso o compromisso da Viaoeste com este projeto.
Por quê?
Eu já estava fora do governo e a Viaoeste ajudou com pelo menos R$ 500 mil, dinheiro da época (o que seguramente em dinheiro de hoje chegaria perto de R$ 2 milhões se for usado o dólar como fator de atualização monetária), a prefeitura no patrocínio e promoção dos jogos daquele ano da Taça Davis (uma das competições mais tradicionais do tênis internacional). Nunca antes na história Sorocaba havia sediado jogos de tamanha magnitude nem no tênis e nem em nenhum outro esporte.
A compensação pela mudança do traçado da Raposo no Casarão de Brigadeiro foi o patrocínio da Taça Davis? Nunca essa pergunta foi respondida e Crespo, na minha opinião, por ser parte viva desta história, não poderia ter lançado a ideia do projeto sem fazer menção a tais fatos como eu faço agora.
Entenda a importância do Casarão
No site oficial da Prefeitura de Sorocaba, é publicado trecho de obra do historiador Aluísio de Almeida, onde ele relata que a casa grande que pertenceu a dona Gertrudes Aires de Aguirre e depois ao filho, o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, é do começo do século XIX, por volta de 1780, sendo identificado pelo arquiteto Carlos Lemos, como um “edifício urbano” construído na zona rural e que permaneceu isolado inicialmente, para receber mais tarde, justapostas aos seus flancos, uma série de pequenas casas que teriam servido de senzala para os escravos da fazenda, que em 1839 eram mais de sessenta. No entanto, essas pequenas casas anexas ao imóvel principal foram demolidas por ocasião da restauração do Casarão, em 1980
Entre o casarão e o o morro granítico empinado aos fundos, serpeia o córrego do Passa-Três, que deu origem ao primeiro nome daquela localidade. Ali existiu um grande açude, transformando-se posteriormente na atual várzea.
O imóvel em questão foi construído em taipa, técnica construtiva herdada dos portugueses aos árabes, à base de argila (barro) e cascalho. O imóvel foi construído por volta de 1780, pelo padre Rafael Tobias de Aguiar que, ao falecer, legou o sítio do Passa-Três a seu sobrinho, o Capitão de Ordenanças Antonio Francisco de Aguiar, casado com dona Ana Gertrudes Eufrosina Aires de Aguirre. Dentre os filhos deste casal o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar.
A história do casarão registrou ainda dois fatos importantes: a revolta de dois escravos contra o feitor da fazenda e o acidente durante o passeio de barco no açude.
À época da construção do imóvel, era o sítio do Passa-Três destinado à plantação da cana-de-açúcar e a casa grande a sede desse engenho. Com o passar dos anos, e já propriedade do Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e suas irmãs, transformou-se o Passa Três em plantação de café. Nessa época, por volta de 1860-1870, o imóvel sofreu a primeira alteração, quando a varanda dos fundos foi fechada, transformando-se em nova sala, construiu-se nova cozinha fora da casa e a porta principal foi trocada pela de arco pleno. Os caixilhos e vidros nas janelas são também dessa época.
Atualmente abriga o Centro de Estudos do Tropeirismo, que busca preservar e divulgar esse importante ciclo ligado à História de Sorocaba. Mantém exposição permanente, promove exposições periódicas e preserva parte da Mata Atlântica remanescente de nossa região. Realiza também eventos e atendimento a grupos escolares e ao público interessado em geral pela temática.