Passados 521 anos do descobrimento (ou seria achamento?) do Brasil, celebrado hoje, 22 de abril, quando a nau de Pedro Álvares Cabral chegou em Porto Seguro, na Bahia, ainda somos apenas uma colônia dedicada a exportar commodities a preços baixos e importar tecnologia a preços absurdamente altos.
Até marcas profunda de nossa cultura, como o futebol, por exemplo, estão sendo colonizadas com as novas gerações torcendo para times ingleses, italianos, alemães e espanhóis.
Marcas de nossa cultura, menos enraizada, como a literatura por exemplo, despertam nenhum interesse (nem no Brasil e menos ainda no mundo) a não ser que o autor se curve a escrever o que os “donos” da alta cultura apontam como sendo o tema do qual podemos falar: o submundo tropical selvagem, exótico, oral, fantástico que aparecem nos livros de Jorge Amado ou Paulo Coelho.
O teatro e o cinema, com mais recursos e por serem mais atraentes do que letras impressas, ainda encontram público devido a uma indústria mais organizada.
A música, seja a dos movimentos Bossa Nova, Tropicália, as populares de raiz regional (Samba, Mineira, Baiana, Gaúcha, Pernambucana…) ainda resistem embora de modo mais capenga. A música comercial massificada pela TV (sertanejo universitário, funk, pop) encontra seu público de um modo mais fácil e se entope de dinheiro.
A indústria metal-mecânica segue caminhando a passos largos para a bancarrota, embora ao menos duas dúzias de montadoras de carros ainda estejam por aqui.
O que salva a economia nacional é o agronegócio, o comércio de recursos naturais e um vasto mercado interno (grande parte na informalidade, mas ainda garante o ganha pão da esmagadora maioria da pobre população brasileira).
Cifras trilhardárias de impostos seguem sendo arrecadadas e sustentando um Estado pesado para a baixa eficácia e eficiência do que devolve ao cidadão. Aliás, o brasileiro, 521 anos depois, com rara exceção, ainda não sabe o que é cidadania.
O brasileiro está com o olhar automatizado. Está sem ânimo, triste e sendo facilmente iludido com falsas promessas de governantes que não têm condição de entregar as mentiras que distribuem em discursos, vídeos, lives, relises… Vide as novas pataquadas ditas hoje no Encontro de Clima pelo Jair.
Quando eu era adolescente, e eu era o futuro deste país, tinha certeza que seriam necessários 50 anos para que nossa história fosse outra. Meu pai, então na faixa de 60 anos de idade, dizia com sua experiência de vida (ele praticamente era analfabeto), que eu era bobo e que eu não perdesse tempo querendo mudar o futuro de ninguém, pois isso aqui (o Brasil) não tinha jeito. Obviamente, como todo adolescente, não dei ouvidos ao meu pai e neste aniversário de descobrimento meu pessimismo é tão igual ou maior do que o dele. Tudo continuará igual por aqui. O pensamento do brasileiro é de subserviência, de morador de colônia. E nada do que fiz nos meus quase 54 anos de idade ajudou a mudar isso. Resisto há 8 anos neste blog. Até quando? Para quê?
Não resta esperança alguma? Pode algum leitor, que chegou até aqui na leitura, estar se perguntando. Talvez a poesia, único instrumento capaz de desautomatizar o olhar, seja um caminho. E quem o aponta não sou eu, mas o mineiro Bruno Brum cujo a obra merece ser lida. Ele faz com que a poesia ainda tenha algum sentido neste século 21, 521 anos depois de terem nos achado aqui.