Massageou meu ego ver “Minuto de Silêncio”, meu livro de obituários, lançado em dezembro de 2020, no estande da editora Mireveja na Feira do Livro 2023 que acontece até amanhã, domingo, 11 de junho, na frente do estádio municipal do Pacaembu na capital paulista.
Posei nesta foto com o editor do livro João Correia Filho. Pura vaidade, pois o livro estava escondidinho no mais baixo patamar da estante, aquele lugar onde precisa se abaixar para saber o que está ali. Meu editor me disse: Seu livro está aqui.
Essa foto não vai ajudar em nada na venda do objeto livro e, pior, na leitura do que eu escrevi. Sua publicação é só mesmo vaidade.
O espírito da feira, e está no seu nome, é o de ser feira, ou seja, comércio. No caso comércio do objeto livro. Não se trata do que está contido em suas páginas, aquilo que é a “alma” do escritor ou de quem escreve, como é o meu caso. Sim, são coisas diferentes. Muitos, eu incluso, escrevem. Poucos são lidos, esses são os escritores. Escritor é quem estabelece uma relação entre sua escrita e o leitor. É uma magia. Infelizmente, há muito só comprador de livro. Gente que acumula o objeto. Acha bonito. Vê como um bom enfeite, presente. Mas… não lê.
A feira tenta mudar isso. Mas não acho que seja um mecanismo eficaz. Ainda é tudo muito caro. O preço de venda é o do objeto livro e o lucro vai para o vendedor, quem vive desse negócio de vendê-lo. Quando ganha alguma coisa, o escritor, ou quem escreve que é o meu caso, ganha muito pouco, pouco mesmo, em geral 8% do preço. A editora 32%. A livraria ou ponto de venda leva 60% do preço de capa.
Essa Feira do Livro de São Paulo, além de tudo, não facilita a vida do potencial leitor. Ela é a reprodução literal de uma feira qualquer, ou seja, o estacionamento da frente do estádio foi preenchido por barracas, como acontece em qualquer feira. Não há onde sentar, como ocorre em qualquer feira. Banheiro, só químico, e longe como em qualquer feira. O estacionamento é um comércio à parte dominado por experientes e assustadores flanelinhas que por uma vaga na rua te pedem 50 reais para que se acabe pagando 30 mangos.
E são tantas pessoas! Arrisco dizer que milhares passarão ali pelo Pacaembu até amanhã. Eu, há tempos, não gosto de lugar lotado. Tenho mal-estar. Nesta sexta-feira, meia-hora depois fui embora. No carro, percebi que estava hiperventilando. Então respirei fundo, abaixei a cabeça e me recuperei o suficiente para conduzir.
Fui ao cinema. Para entrar no Petra Belas Artes passei no túnel sob a Consolação onde está, há vinte anos pelo menos, um sebo de livros. Comprei a coleção de “Nate”, de L. Peirce, uma espécie de “Diário de um Banana”, para minha neta que caminha a passos largos à pré-adolescência, por um preço pra lá de módico.
Contei à livreira dali de onde eu vinha e ela me deu uma aula de como essa feira, palavra dela, se apropria de valores de sua gente (ela é pobre e preta) coloca numa embalagem bacana e continua impedindo que as pessoas que mais precisam de livros estejam perto deles. E ela me disparou perguntas: Você viu algum livro lá por 20, 30 reais? Você viu pobre e preto lá? Eu só chacoalhava a cabeça dizendo não. E subi os degraus pensando que na feira só tinha, mesmo, gente branca, muitíssimo bem nutrida, com roupas, acessórios e sapatos de grife e… com seu cachorrinho.
Diante disso tudo me pergunto: É ou não é vaidade publicar essa minha foto? Vaidade de ter um objeto com meu nome na capa. Só isso o que tenho. Não há leitor!