O Conlitecos, cuja a tradução é Concurso Literário do Colégio Objetivo de Sorocaba, aconteceu em 1983, acho.
Eu tinha 15 para 16 anos nessa época e participei com algo que escrevi sobre o Festival Águas Claras, em Iacanga, perto de Bauru. Não precisava ser datilografado, o texto, mas minha caligrafia era tão ruim que meu amigo Paulo Mendes, fundador da empresa de transporte por ônibus PRM, fez uma cópia dele para eu fazer minha inscrição. Sua letra era linda. Estávamos no chamado 1° colegial da EE Júlio Bierrembach de Lima e o mundo era totalmente analógico.
O texto que escrevi foi um dos vencedores. Parte dele, apenas, foi publicado. Eu nunca soube a razão de não ter sido publicado o todo que eu escrevi. Mas está lá meu nome impresso no livro.
A organização do concurso resolveu fazer um evento para coroar o sucesso da empreitada. E reuniu no chique Ipanema Club todos adolescentes que tiveram seu texto no livro. E para incentivar os jovens, a organização contratou os escritores Ricardo Ramos, filho de Graciliano, e Luiz Fernando Veríssimo, filho do Érico para estarem presentes na festa.
Ambos ficaram no palco, cada um atrás de uma mesa lotada de livros sobre elas. O nome do adolescente era anunciado e ele se levantava da sua cadeira na plateia, atravessava o salão e subia uma escada para acessar o palco. Lá em cima, se dirigia para um dos escritores que lhe entregava o exemplar do livro e trocavam um aperto de mão.
O evento começou cinco da tarde. Eu estava me sentindo bem em ter sido selecionado e decidi ir chique para receber meu prêmio. Isso incluiu usar um raiban, como se chamava qualquer óculos de lente escura. O meu era um tipo que se dobrava. Meu cunhado havia trazido do Paraguai. Eu me sentia um galã com ele.
Só que…
Eu fui um dos últimos a ser chamado ao palco. O Sol já tinha ido embora. Meu raiban não tinha o grau dos meus óculos de dia-a-dia, ou seja, um míope de lente escura subindo escada. Tropecei no último degrau. Me levantei. Era a vez de Luiz Fernando Veríssimo entregar um livro. Fui até ele. Estiguei meu braço para pegar meu livro, mas antes de alcançar a mão dele a minha derrubou alguns dos livros do monte da mesa dele que caíram e entornaram o copo com água que molhou a calça de Veríssimo. Ele ficou vermelho como um pimentão e não sabia o que fazer. Somente anos mais tarde ele ficou famoso e soubermos o quanto é tímido.
Eu menos ainda sabia o que fazer. Eu já estava sem raiban a essa altura, mas também sem meus óculos de grau. Um professor da organização do evento me tirou dali. Quase caí descendo do palco. Todo mundo ria. Eu não sabia onde me esconder de tanta vergonha.
Me lembrei disso tudo porque Luiz Fernando Veríssimo completou neste 26 de setembro 87 anos de idade. Vida longa para ele. Fica meus parabéns de feliz aniversário e um pedido de desculpas. Tardio, mas honesto.
Veríssimo ficou famoso por sua inteligência, talento literário e senso de justiça sempre presentes em suas crônicas publicadas em jornais de circulação nacional, na revista Veja, em programas na Rede Globo, livros, palestras… Imagino que tenha conseguido ter uma vida bem confortável financeiramente.
Ricardo Ramos, por sua vez, morreu cedo, em 1992, aos 63 anos. Me dou conta que nunca li nenhum dos seus livros, nem mesmo os três que lhe deram o Prêmio Jabuti: “Os caminhantes de Santa Luzia”, “Os Desertos” e “Matar um homem”.
Essa é apenas uma das falhas de minha formação!