Eu acordei bem hoje, não que nos outros dias eu estivesse acordando mal. Mas hoje está diferente. Existir é bom.
Me sinto tão bem quanto uma manhã de minha infância, numa feira de rua, como as tantas espalhadas em qualquer cidade. Havia Sol depois de dias de céu cinzento. E havia uma doce melodia de Bossa Nova vagando no ar. Vinha de longe, invadindo quem estava à toa, como era meu caso, apenas andando sem ter um lugar para chegar.
O que sinto nesta manhã é muito similar ao que senti naquele junho. Mas dessa vez, ao contrário daquele dia, onde o som, o Sol e as barracas me transportavam de volta pra casa, agora a minha viagem vem de dentro. De muito fundo, de um lugar onde a consciência não é capaz de dizer que se trata de bobagem essa felicidade inusitada. A consciência, em sua insistência de que eu deveria deixar pra lá esse sentimento e me ater às necessidades, ao cotidiano, não tem força.
Não sei se é do inconsciente que veio essa alegria, não sei que nome tem esse lugar dentro de cada um de nós. Alma? Talvez seja esse o nome? Sim, me parece bastante adequado chamar esse lugar, tão livre de conceito e preconceito, de alma.
Deste lugar acordei com um sabor em mim (que nunca experimentei). Um cheiro (que não sei qual é), mas sei que lhe são tão característicos. Era tão real em meu sonho, que me acompanharam quando saí da cama. Gosto e cheiro tão saborosos em meu sonho, me acompanham nesta manhã gelada de meu aniversário.
Me sinto unidade, entrelaçando meus braços em mim mesmo, me apertando como se eu fosse uma só carne (como isso denuncia minha formação católica).
Eu estava cheio de felicidade no meu sonho. Tão cheio que transbordou para a realidade desta minha manhã. Onde acordado sinto meu sonho. Sinto por ter sido um sonho. Sinto, alívio, por ter sido apenas sonho. Sinto a alegria de, no fundo de mim, ser capaz de amar aos 57 anos.
É assim que me sinto a caminho dos 60 anos. Bem vivo. Em movimento. Pronto pra ir longe. Bem longe.