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Em 1986 eu vi pela televisão, ao vivo, (o que era comum, à época, apenas em jogos) o que é totalmente corriqueiro hoje em dia, desde o advento da Internet, uma transmissão ao vivo de um evento. No caso, o supermercado Eldorado se consumir em chamas apenas algumas quadras de “minha república” em Campinas. 

Era estranho estar tão longe, na casa de meus pais, em Sorocaba, onde havia vindo passar o Natal, e ver um lugar de meu cotidiano se derreter. Um prédio tão imponente na aparência ser, na verdade, tão frágil diante do fogo. Um gigante se despedaçando em partes diante das câmeras da TV. Sua derrocada sendo espetáculo para quem estava a metros do calor das chamas ou a quilômetros, encurtados pela transmissão ao vivo da televisão.

Foi a primeira grande metáfora de minha breve vida adulta daquele momento, quando ainda tinha apenas 19 anos. Metáfora da ilusão na qual somos educados. Ser forte… Crescer… De repente, diante daquele espetáculo de destruição, pareceu algo absolutamente sem sentido.

Tudo é tão frágil!

Naquele momento eu ainda não sabia o que anos mais tarde se tornou o mantra de minha vida: Viver é imprevisível, incontrolável e acidental por mais que se planeje, controle e cuide das ações, da relações e movimentações.

O fogo no Eldorado aconteceu na véspera do Natal. Acho que exatamente no dia 24. De madrugada. Pela manhã já era assunto nacional e a televisão nos mostrava tudo. Não chega um ano nessa época, passados 37 anos da tragédia, que não bata em mim não a lembrança, mas uma espécie de reviver meu sentimento de impotência e fragilidade daquele momento.

Nunca, nessas quase quatro décadas, tive tanta vontade de ficar prostado, só isso, como estou neste Natal. 

Sempre me adaptei ao ambiente e segui em movimento, mas me sinto tomado por uma melancolia nunca antes vivida. Estou rígido. Só sei que não para sempre.

Me levanto todos os dias. Não vejo nenhuma outra alternativa. Nenhuma outra que faça sentido. Não a mim. Não às pessoas que tanto amo e têm um século, ou quase, de vida pela frente.

Feliz Natal!

PS – As postagens estarão de volta no dia 3 de janeiro.

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