Fim da personagem 

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Silvio Santos entrou na minha vida pelo acaso. Eu devia ter 6 ou 7 anos, era 1973/74, e todos lá em casa se postaram na frente da TV por volta de 11h30 (acho que era esse horário porque me lembro de ter almoçado apenas depois disso). Eu não sabia o motivo até que booomm. Apareceu lá na tela em preto e branco, na minha televisão, o Marco, que depois virou Marco Chita, o filho do seo Arnaldo da Sorocabana (Fepasa), o freguês do bar dos meus pais, o amigo do meu irmão barreado, o corintiano que abriria a Pop Modas, o irmão do Vavá e da Cida do Luís.

Marco apareceu no programa do Silvio Santos porque não tinha um cachorro, gato, passarinho, tartaruga de estimação, mas um macaco. Marco e seu macaco estavam de mãos dadas na TV e Silvio Santos soltou essa: “Agora o Marco Chita…” Pronto, o nome pegou. Chita era o nome do macaco do Tarzan e daquele dia em diante virou codinome do Marco.

Assim, Silvio Santos não saiu mais de minha vida. Ele se tornou o calendário que marcava meu tempo. Eu sabia que ia começar uma nova semana logo depois da missa. Eu tinha um certo pavor, um medo de não dar conta do que era necessário ser feito na segunda-feira. Domingo era dia de angústia. Por alguns fatores, esse um deles.

Minha mãe não era das suas maiores fãs, longe de ser uma colega de trabalho, mas era assídua telespectadora, principalmente do meio da tarde pra noite. E assim todos de casa também eram. No domingo, a TV ficava ligada de manhã até a noite. 

Não conheci Silvio Santos pessoalmente e reconheço nele o maior comunicador popular da história do Brasil. Não apenas da TV, onde foi gênio, em que pese o flagrante de preconceitos destilados por ele.

Por mais politicamente incorreto que seja dizer isso, a verdade é que eu não gostava dele. E menos ainda gostava do seu programa. Ele nunca foi humano, no sentido literal do que é ser humano. No ar, ele sempre estava sorrindo. Sempre feliz. Sempre de bem com a vida. Sempre positivo. Sempre pra cima. O que é mentira.

Silvio Santos nunca deu espaço à verdade. Sempre vendeu a esperança. Sempre alimentou a mentira de que se vira milionário com sorte. Silvio Santos educou o brasileiro no que o brasileiro tem de pior que é não acreditar que obterá sucesso por seu esforço, mas apenas pela Porta da Esperança, pelo Carnê do Baú.

Silvio Santos, nome artístico do Senor Abravanel, está na vida de cada brasileiro. De um jeito ou de outro. Ninguém passou incólume a esta personagem.

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