Foto mostra a ‘uberização’ do trabalho: Falso ou verdadeiro?

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Uma fotografia urbana tirada numa rua de Buenos Aires, sob o governo neoliberal de Mauricio Macri, mostra uma mãe trabalhando de entregadora e carregando o seu bebê enquanto cumpre a sua jornada.

Junto, da foto e sua afirmação, a interpretação: Está achando que motorista do Uber é “empresário” ou o guri de bicicleta leva comida nas costas é “empreendedor”? A foto mostra o que significa o uso das tecnologias para aumentar a exploração sobre o povo. Ou alguém acha mesmo que esta mulher é “empreendora”?

Trata-se do caos para além do caos.

A foto é um instantâneo que flagra a uberização do trabalho, ou seja, a incessante busca do capital por incentivar (via novas tecnologias) que a mais-valia relativa passe a se constituir em mais-valia absoluta, também conhecido como aumento da produtividade do trabalho assalariado. Para tanto, é necessário derrubar direitos e conquistas dos próprios assalariados. A barbárie já habita o nosso meio…

O texto, segue, argumentando a partir da foto argumentando contra a exploração do chamando Estado “mínimo” neoliberal que não oferece nem creche e nem escolas infantis.

Não é bem assim

O jornal Clarin, um dos mais tradicionais da América do Sul e um dos mais respeitados da Argentina, faz parte de um projeto chamado “Reverso” que reúne mais de 100 veículos de comunicação e empresas de tecnologia que trabalham contra a chamada desinformação e no chamado as notificas falsas (fake news).

O projeto Reverso localizou a protagonista da foto: trata-se um venezuelana que vive em Buenos Aires desde 2018. Ela explicou que fez a foto com o bebê antes de ir trabalhar e que nunca levou o bebê ao trabalho.

Quilés o fotógrafo, autor da foto, contatado por Reverso, explicou: “Ontem [3 de outubro de 2019] saí fazer fotos com Benito Cerati. Fui a buscar minha camioneta na rua Sáenz Peña e ao chegar na esquina de Belgrano, em frente ao Departamento Central de Polícia, quando vou a cruzar a rua, vejo esta cena e fiz a foto, quase como instinto. Quero que fique claro que nunca a vi andar na bicicleta com o bebê, só a vi como mostra essa foto”.

En diálogo telefônico com Reverso, a moça da foto disse: “Eu não trabalho com a minha filha. Eu parei na avenida Belgrano para ativar meu aplicativo de pedidos. Eu levo minha bicicleta na mão e minha filha comigo, mas em nenhum momento monto na bicicleta com ela e muito menos para trabalhar. Me dá medo que está foto possa me prejudicar em algo. Este trabalho é o pouco que posso ganhar para manter o meu bebê”.

Qual a sua conclusão?

Minha impressão é que a venezuelana, de fato, não trabalha com seu bebê. Mas é evidente que este foi o emprego que sobrou a ela como imigrante numa Argentina em crise. E que ganhar uns trocados ainda é melhor do que viver em seu país, a Venezuela. Algo como se correr o bicho pega, se ficar o bicho come… Que tempo é esse!

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