Grandes mãos 

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Em julho do ano passado acompanhei um amigo numa consulta médica com um especialista em cirurgia de próstata.

Seu consultório ficava dentro do hospital Albert Einstein, um templo do que há de mais moderno e sofisticado em termos de hospital do mundo, que fica na cidade de São Paulo.

Esta foi a segunda vez em que acompanhei um amigo neste hospital. A primeira havia sido no final dos anos 80, devia ser 1989 ou 1990. Naquela oportunidade eu já havia me impressionado com a sua aparência: Paredes altas, mármore, asseio que me lembravam mais um centro comercial do que hospitalar.

Me lembro disso tudo porque o médico do meu amigo, Limírio Leal da Fonseca Filho, morreu há alguns dias. 

Que tristeza!

Quando o conheci, durante a consulta de meu amigo, ele me pareceu acinzentado e não escondeu que se recuperava de um câncer, embora não tenha entrado em detalhes de sua doença. 

Ele se lembrou com carinho de Hugo Hipólyto, o urologista que cuidou do meu pai em Sorocaba e, penso eu, uma das melhores referências dessa especialidade, de quem Limírio foi estagiário. Falou muito também de Genessy Bertolazzo, outro gigante da urologia em Sorocaba. 

Limírio foi quem fez a primeira cirurgia no Brasil usando robô. Até então a próstata, local delicado, era operado pelas mãos do cirurgião. O uso do robô trouxe segurança, eficácia e eficiência nessa cirurgia.

Não foram um, dois ou três os sorocabanos pacientes de Limírio, mas dezenas. Entre eles prefeito, vereador, empresário e também operário.

No dia da consulta, que durou mais de uma hora e teve atenção detalhada de Limírio, ele pediu licença para atender ao celular. Foi muito delicado e amoroso com a pessoa do outro lado. Depois explicou que era sua esposa. E também falou da urgência dela querer falar com ele, pois havia ocorrido a piora do quadro de saúde do marido de uma funcionária de sua casa, que havia batido fortemente a cabeça durante uma queda no trabalho. Ele tentou acalmar a esposa e nos disse: Depois de todos os recursos humanos, o paciente precisa reagir. Não há nada mais que o médico possa fazer. É preciso ter fé.

Limírio era um homem da ciência, mas não negava a espiritualidade e a força da crença.

Sua morte me chocou, mas não tanto quanto ao meu amigo que se curou após a cirurgia que passou por Limírio. Não tanto quanto aos seus milhares de pacientes em mais de quatro décadas de medicina. 

Pessoas como Limírio são diferenciadas e deixam lacuna. Sua história será para sempre. Seus pacientes tratarão de manter vivo seu legado cada vez que contarem de sua recuperação e vida normal. Ou seja, sem o câncer na próstata e com todo vigor sexual preservado.

Limírio Leal da Fonseca Filho foi chefe do Departamento de Endourologia e Videolaparoscopia da Sociedade Brasileira de Urologia. 

Ele também foi chefe da Enfermaria e do Grupo de Tumores Urológicos do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

Limírio tinha título de Mestre e Doutor pela USP.

Em março de 2008, iniciou o programa de cirurgia robótica no Hospital Israelita Albert Einstein, sendo um dos responsáveis por trazer ao Brasil as primeiras prostatectomias robô-assistidas em pacientes com adenocarcinoma de próstata localizada e submetida à prostatectomiaradiaçãocal robô-assistida (PRRA), realizado com o Sistema Cirúrgico Vinci S (Intuitivo Cirúrgico, Sunnyvalle,CA, EUA).

Limírio foi velado e sepultado no Cemitério Morumby em São Paulo no dia 27 de janeiro passado.

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