Dias atrás escrevi que é uma obscenidade estar bem nos dias de hoje num ambiente onde os brasileiros seguem morrendo e a vacinação contra a Covid desacelerou por falta de insumos, de logística, planejamento, enfim, falta de gestão do poder público.
E hoje leio que um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas aponta que os jovens brasileiros neste ano de 2021 estão mais tristes, observando uma forte queda no índice de felicidade deste grupo em relação a 2013, o ano em que o mundo começou a mudar com as primeiras manifestações Black bloc (tática de ação direta, de corte anarquista, empreendida por grupos de afinidade que se reúnem, mascarados e vestidos de preto, para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar o establishment e as forças da ordem).
A pesquisa, apurou o quanto satisfeitos com suas vidas estão os jovens entre 15 e 29 anos a partir de dados do Gallup World Pool que anualmente levanta dados sobre a felicidade no mundo e no mercado de trabalho. Essa pesquisa apurou entre 2013 e 2014, que o Brasil ocupava o 18º lugar no ranking da felicidade. De 0 a 10, a média respondida à época foi de 7,2; Já entre 2017 e 2018 esse índice caiu para 6,7, levando o Brasil para o 31º lugar no ranking de países analisados pela pesquisa; Em 2020, a queda foi ainda maior, com índice 6,4. A posição no ranking ainda não está definida.
Triste é o antônimo de felicidade; é o estado afetivo caracterizado pela falta de alegria, pela melancolia.
Mas antônimo de felicidade também pode ser definido por definhar, ou seja, pela sensação de estagnação e vazio. “É como se você estivesse confundindo os dias, olhando para a vida através de um pára-brisa enevoado; é a emoção dominante de 2021”, escreveu Adam Grant no jornal The New York Times e republicado no Brasil pelo O Globo em 21/04/2021. Grant é psicólogo na Wharton School, autor do livro “Think Again: The Power of Knowing What You Don’t Know” (sem tradução no Brasil) que se define por ser um convite a cada um abandonar pontos de vista que não estão mais nos servindo bem e valorizar a flexibilidade mental, a humildade e a curiosidade acima de certeza tola.
Definhar é a ausência de bem-estar, ou seja, o vazio entre a depressão e o florescimento. “Você não tem sintomas de doença mental, mas também não é a imagem da saúde mental. Você não está funcionando com capacidade total. Definhar entorpece a motivação, atrapalha a capacidade de se concentrar e triplica as chances de se produzir menos no trabalho. Parece ser mais comum do que a depressão grave e, de certa forma, pode ser um fator de risco maior para doenças mentais”, escreve Grant.
Há futuro, mas os jovens estão mais tristes; estão em dúvida sobre a qualidade dele; estão temerosos se haverá lugar para eles. A pandemia, e principalmente a forma como os governantes estão lidando com o Covid-19, sem dúvida, aceleram este sentimento.
É função de cada um de nós manter viva a chama de que tudo isso vai passar e haverá oportunidades para todos. Com isso, quero conclamar você, meu leitor, ao perceber que uma pessoa próxima, ou não tão próxima, está definhando, triste, infeliz… aja. Comece com um sorriso. Se houver espaço, fale alguma coisa. Interação é o mais urgente a ser feito no momento. Não vamos definhar.