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E agora o que fazemos?

O que sempre fizemos, continuamos remando.

Esse diálogo está num cartoon publicado hoje na capa do jornal Página 12, matutino que há 36 anos é um dos principais da Argentina e refere-se a esmagadora vitória do ultradireitista Javier Milei nas eleições que definiram o próximo presidente do país.

Não foi o acaso, ignorância ou enganação esse resultado. Ao contrário, foi voto consciente. O argentino quis Milei, vai ter Milei. Assim como o Brasil quis Bolsonaro; a Itália, Berlusconi; a Grã-Bretanha, o Brexit; os Estados Unidos, Trump…

Esse é o modo escolhido pelo mundo para dizer que não acredita mais na vida em sociedade. Não, pelo menos, na que viveram até agora. 

Os ultradireitistas, os extrema-direita, tem um modelo de sociedade onde o indivíduo está acima de qualquer sentido de coletivo. Resta saber como isso vai se dar na prática uma vez evidente ser incompatível esse desejo do eleitorado, expresso em votos nos extrema-direita, e a legislação vigente onde está em curso o auxílio a quem mais precisa.

A localidade (não dará para se chamar sociedade) dos ultradireitistas e extrema-direita: 1) não acredita que o tempo está quente como nunca por ações humanas e nega preservar a Natureza; 2) prega o uso de arma, ou seja, não importa se tornar um assassino se houver bom motivo pra isso, como preservar sua propriedade; 3) não se importam em preservar vidas numa pandemia, como a última, mas sim o comércio; 4) a cultura é tão somente um produto, como um sabonete, por exemplo; 5) vê as minorias como minorias e que se torne maioria se desejam melhorias (como ultradireitistas e extrema-direita que eram minorias e estão se tornando maioria…)

Um antigo professor, logo após a vitória de Milei, domingo à noite, disse que daqui um ano Milei não estará mais no governo tamanha a divergência entre o que Milei diz que vai fazer e o que o “povo” deseja. Eu não acredito. O argentino (como o brasileiro, italiano, inglês, estadunidense…) quer mesmo essa guinada e que só os aptos sobrevivam. Que os fracos fiquem pelo caminho. É a purificação do ambiente. É o darwinismo na sua mais real prática.

As escolhas que vêm sendo feitas (esse jogo de vence, perde) conduzem a política a uma sociedade que ninguém é capaz de assegurar qual será. Mas certamente não é a qual nós estamos acostumados desde o fim da 2° Guerra Mundial quando houve um redesenho geopolítico com governos subsidiando seus cidadãos às custas de subsídios do cidadão ao governo, ou seja, os impostos de quem pode mais beneficiando quem pode menos. As escolhas de ultradireitistas e extrema-direita direita dizem isso.

Resta saber o que virá no lugar.

As derrotas de Trump e Bolsonaro, me parece, são falhas no percurso. A volta deles, ou do que eles representam, é só uma questão de tempo. É o pêndulo da história se movimentando. Os cidadãos não querem mais o que está aí há quase 80 anos. Querem algo menos penoso. E que lhe traga mais renda, poder de compra, mesmo que isso signifique o extermínio dos mais fracos.

No passado essas mudanças ocorriam pela força da guerra. Hoje pela força da informação, do voto. Só mudou o método. Na guerra, tudo era destruído: governo, sistema de governo, legislação… Neste novo método, apenas o governo cai. O sistema de governo e a legislação continuam.

O resultado não é o mesmo de uma guerra, portanto. E não dá para prever quando vão se alinhar e se é que se alinharão.

A verdade é que até há 20 anos a extrema-direita não passava de 20% do eleitorado e hoje tem voto suficiente para ganhar a eleição, ou seja, tem voto para dizer que não quer o que está aí, que quer destruir o que está aí, que não quer saber se vai piorar. É aquela criança que, em desvantagem, espalha as peças do tabuleiro acabando com a brincadeira. No caso de Milei, uma particularidade me deixou perplexo: Ele usa o Tarot (aquele tipo de jogo de baralho) para tomar decisões. Nada é mais rudimentar, pura crendice, do que isso. Apenas mais um que joga Deus na lata do lixo e nega o conhecimento científico e convence o povo (que vem sendo massacrado há anos, não só economicamente, mas emocionalmente também) a achar que não fica pior do que está.

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