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Eu continuo comprando carne no mesmo açougue, apesar do dono, que não conheço, ter trocado a maioria dos açougueiros atendentes. Não gosto quando isso acontece. A relação do freguês é com a carne que ele compra, sua qualidade e seu preço, mas também com quem o atende.

Entre os novos, há um jovem, claramente na faixa dos 20 anos, bem longe dos 30, tagarela que ele só. Um exibido. Por exemplo, na sua simpatia, ele oferece de tudo como uma galinha caipira, quando ele aproveita o momento para explicar a diferença entre a caipira e a da granja. Ele é tão exibido que deu uma receita para uma senhora. Mas ele não é chato, já digo. Ele, ao contrário, é bom de bico, pra usar uma antiga expressão da minha mãe. Domingo coincidiu dele me atender. 

O sistema nesse açougue é o seguinte: O freguês pede a carne, o açougueiro a prepara e a pesa na frente do freguês. As etiquetas com os preços são então dadas ao cliente que sai da frente do balcão e vai ao caixa. Quando está pagando, ou já pagou, o açougueiro que atendeu chega com as carnes compradas dentro de uma sacola…. 

Domingo eu paguei e o jovem não havia chegado com a minha carne. Ele se exibia para uma dona de casa e sua tagarelice agradava. Antes que a mulher do caixa chamasse a atenção dele, eu a interrompi: Esse fala… Vai levar uma vida para chegar aqui. Demos risada e então o tagarela me entregou a sacola com minhas carnes.

A mulher do caixa, se dirigindo a mim, mas fazendo referência ao açougueiro, disse: Esse aí deveria ser vereador. Ele conversa com todo mundo com muita facilidade e fala de tudo…

Antes que eu pudesse falar alguma coisa, o jovem lhe repreendeu: O que é isso? Está me chamando de ladrão! 

Ele continuou falando, mas eu já havia deixado de prestar atenção. 

Primeiramente, essa visão comum de que um vereador deva ser simpático é equivocada. Entender que ser simpático não só importante, mas o mais importante, é a causa de escolhas ineficientes para os legislativos. Ser legislador deveria ser um cargo ocupado por pessoas capacitadas para criar soluções, através de leis, de problemas comuns a uma sociedade. Deveria, mas na prática é um simpático que dá um jeitinho no problema de alguém através de “gestão” junto ao Executivo. 

Por fim, a ideia de que vereador, ou político em geral, é ladrão, embora também comum, é um equívoco que cada vez mais afasta da política as pessoas de bem.

Eu fui candidato a vereador na última eleição e recebi 682 votos. Não havia necessidade alguma de eu me candidatar, ainda mais sendo uma espécie de anticandidato, o que fala o que pensa, não é assistencialista e nem seja simpático. Perdi a eleição. Outras boas pessoas também perderam. Bolsonaristas ou lulistas foram os eleitos pelo voto democrático tendo como lógica de escolha o que me disse a mulher do caixa do açougue. Ano que vem, estou certo, nada vai mudar. Os mesmos serão os escolhidos. Pois o pensamento do eleitor é o mesmo. Ele quer alguém para resolver os seus problemas, particulares, quando muito de sua rua, não das ruas vizinhas, do bairro, da cidade, do estado ou país. O eleitor é o cidadão que enxerga o que está próximo do seu umbigo. E muitos que se candidatam sabem muito bem disso e aceitam essas regras. Outros, não.

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