Leitura: Escute as feras

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Este livro não é um ensaio de Antropologia, mas poderia ser, pois a autora, Nastassja Martin, é antropóloga premiada e narra neste “Escute as Feras” sua experiência na Sibéria quando buscava entender os evens, povo que vive em pleno século 21 com os recursos primitivos, ou seja, sem nada que não seja oferecido pela natureza gelada das florestas e rios desta inóspita região do planeta. 

“Escute as Feras” acaba sendo uma narrativa de sentimentos a partir de um encontro da antropóloga e um urso siberiano, daqueles gigantescos que ultrapassam os 2 metros de altura quando ficam sob duas patas.

Ela e o urso se atracam. Ele morde e arranca a mandíbula dela com uma dentada. Ela usa um pequeno machado pontiagudo e crava-lhe uma das patas. Ferido, o urso se afasta e ela acaba sobrevivendo até ser socorrida na civilização russa, primeiramente, até chegar em Paris, sua terra natal.

Enquanto antropóloga, Nastassja escreve sobre os confins, a margem, o limite, a zona fronteiriça, o espaço entre dois mundos. Enquanto narradora de sua experiência de lutar com um urso, ela reflete: “O acontecimento não é um urso ataca antropóloga francesa em algum ponto da montanha Kantchatka. Mas, sim, um urso e uma mulher se encontram e as fronteiras entre seus mundos explodem.”

O leitor acompanha desde a primeira linha este drama e nas centenas de páginas seguintes a recuperação dela após cirurgias e dores até que curada decide o quê? Retornar à montanha. Para quê? Este é o tema do livro, a força que atrai uma mulher outrora linda, agora deformada, para o ambiente transformador de sua vida. Um desejo de “desfazer um por um os passos que me levaram para dentro da boca de uma fera”.

O livro a todo instante chama seu leitor a lê-lo como uma metáfora da existência. O que o torna ainda melhor do que é. Adorei ler este livro. Espero que você também se anime a ler e goste dele mais ou tanto quanto eu.

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