Minha estratégia de escolha de livros para eu ler me leva ao encontro das mais inusitadas obras. Essa estratégia se resume a ler livros comprados em sebos e de nacionalidades variadas de modo que eu leia autor de país que nunca havia lido. Evidentemente que repito autor e nacionalidade.
Assim cheguei a um livro de um autor da Romênia nesta minha primeira leitura de 2025, um catatau de 567 páginas, de Eginald Schlattner, “Luvas Vermelhas”, livro lançado em 2014 no Brasil pela É Realizações com tradução de Karleno Bocarro.
O livro é dividido em três partes. Na primeira, a vida corriqueira de uma sociedade de séculos. Na segunda, essa sociedade tomada pelos comunistas que impõe à força suas ideias e ideais ao povo. Na última, a vida de quem é solto após anos em confinamento para “aprender” o novo regime.
É um livro autobiográfico. O autor viveu o horror que ele nos narra. O comunismo é uma tentativa de aniquilar a individualidade. É bruto. Nojento. E absolutamente contrário a essência humana. O partido vem sempre em primeiro lugar. Terrível! O pior, o nazismo era a opção vivida por aquele povo no período em que a história se desenrola no período que antecede e sucede a 2ª Guerra Mundial.
O livro está centrado no processo de tortura do protagonista e como sua convicção e resistência vão se minando diante de tamanha violência. Uma história de ideologia, violência, traição.
Não é um livro prazeroso de ler. É revoltante acompanhar o que acontece com o protagonista. Mas é tão bem escrito que eu não abandonei a leitura. Fui ao fim. Para testemunhar à transformação que um aparelho político pode fazer num sujeito. Lembrando que a soma de sujeitos é o que forma uma sociedade.
A esperança está no fato de que há um passado, uma origem, onde sempre se pode se apegar.
“Luvas Vermelhas”, o título do livro, é o nome da brincadeira de criança onde as palmas das mãos de duas estão sobrepostas e quem está com a palma pra cima deve bater nas costas das mãos do colega. No Brasil é uma brincadeira comum. Ou era. Mas nunca teve um nome. Muito menos Luvas Vermelhas referência a cor da mão atingida pelo tapa do colega. É uma referência literal esse nome, pois o protagonista brinca desse jogo, mas também é uma metáfora sobre o “poder” comunista.
O livro virou filme. Mas não sei se chegou a ser exibido no Brasil.
Claro que valeu a pena ler, mas não seria um livro de leitura prioritária fosse outro meu critério para escolher os livros a serem lidos.