Malcriado é pior do que fdp

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Eu não fui uma criança sossegada, vivia em intenso movimento e, como consequência, sempre precisando de um curativo. 

Na minha memória, final de tarde, banho tomado, roupa limpa e um, dois, três… nove… arranhões, raspãos e pequenos cortes que fantasiavam minhas pernas e braços com o vermelho do mercúrio.

Depois do banho, era um pouco de TV, jantar e cama. Até uns 12 anos minha hora de dormir foi sempre cedo. Sete, oito da noite, no máximo, estava na cama, no caso um beliche.

Eu, posso me orgulhar disso, fui muito bem criado. Por mais nervosinho e arrogantinho que eu pudesse ter sido, bastava um olhar dos meus pais para eu me aquietar. Não raro, levava alguma surra de vara de marmelo ou chinelo de dedo de minha mãe. Ela era generosa e nunca me acertava verdadeiramente. Do meu pai, apanhei só uma vez e garanto que ele me acertou pra valer. Lembro, claro, muito bem o motivo. Eu havia importunado o açougueiro na esquina da mercearia do seo Salvador a tarde inteira e ele foi em casa, reclamar com minha mãe que eu era um malcriado.

Essa era, definitivamente, uma grande ofensa. O julgamento de alguém sobre a tarefa principal de uma mãe e pai era algo valorizado. Ser malcriado significava o mesmo que não reconhecer que minha mãe lavava e passava roupa para o marido e cinco filhos, arrumava e passava escovão na casa inteira, cozinhava no café da manhã, almoço, café da tarde e janta para sete pessoas e fazia feira, levava na missa, costurava pra fora e, ainda, era mulher. Sim! Significava não reconhecer que meu pai, duas, três vezes na semana, acordava às 3h da madrugada e ia a pé da Vila Santana ao centro para destrinchar a carne para seus fregueses quando abrisse o açougue de manhã.

Ser malcriado, portanto, era verdadeiramente uma ofensa. Era ser ingrato, defeito dos mais graves onde fui criado. Ser ingrato era o mesmo que Não Honrar Pai e Mãe, algo inadmissível a um católico.

Ser malcriado era algo correspondente à realidade do ato que desabonasse um filho. Muito pior do que o palavrão filho da puta que, sempre, era dito com raiva na intenção de magoar, mas sem nenhuma correspondência com a realidade. Inimaginável que alguma mãe fosse promíscua e, pior, por dinheiro. Eram exceções das exceções…

Por isso tudo, não sei como Neymar poderia ser mais ofendido do que foi com a faixa da torcida do time Paris Saint-Germain chamando-o de malcriado assim que foi confirmada sua saída do time. 

Eu não tenho respeito ou apreço por Neymar desde quando ele desrespeitou Dorival Jr no Santos duas décadas atrás. Além da série de maus-comportamentos com as mulheres. Nem um futebol diferenciado ele joga. Não a ponto de ser um Ademir da Guia, Rivelino, Zico, Sócrates, Tostão sem contar Garrincha e Pelé. 

Minha defesa de Neymar é a de que ele é fruto do seu pai e de sua mãe.  Eles o criaram mal. Não me parece que ele seja um ingrato. Mas apenas um filho fruto do seu ambiente. Isso, porém, não justifica o tanto que ele é rude e escolhe sempre o lado errado. Triste!

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