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Vejo amigos negros demonizando quem torceu pela Argentina na final de domingo, quando ela se tornou tricampeã mundial num jogo épico, de liderança, força e talento ao ser mais competente do que a França na cobrança de pênaltis.

O argumento central se refere ao estereótipo de que os argentinos são racistas. 

Não sou capaz de dizer que não exista argentino que não goste de preto. Creio que esse seja um fato. Assim como há brasileiro que não gosta de preto. O que também é fato. E aí eu afirmo: em termos de porcentagem, pois em números absolutos, pelo tamanho, o Brasil ganha, há certamente um empate. Ou seja, não dá para dizer que a Argentina é racista e o Brasil, não. Se eles são, nós também somos.

Esses mesmos amigos enaltecem os pretos do time da França. Como se isso fosse a prova de que os franceses não são racistas e pretos e brancos vivessem integrados. O que é mentira. E eu vi essa mentira nos dias em que tive chance de passear por Paris. Os pretos que falam francês ainda conseguem se estabelecer. Nos piores empregos ou subempregos, mas conseguem. Os que não falam…

Eu torci para a Argentina desde o primeiro jogo. E isso confundiu, inclusive, minha neta. Na lógica dela, sendo eu brasileiro, me resta torcer pelo Brasil. 

Muitos fatores influenciaram minha decisão. Primeiramente me senti desprezado pela seleção do Tite. Como brasileiro e torcedor. Ninguém ali me representava. Quando se anunciou Fred, cheguei a pensar naquele que está em fim de carreira no Fluminense… 

Um outro motivo foi Neymar. Como posso torcer para um time cujo o “craque” fez campanha pela reeleição do presidente que deixará o cargo dia 31? A quem ele prometeu dedicar um gol (fato não cumprido, pelo que acompanhei). É muito desprezo pelos 680 mil brasileiros mortos na pandemia ou os X milhões de brasileiros que passam fome.

Como, então, torcer por uma seleção que não me representa com um jogador fazendo politicagem para alguém que eu desacredito por completo? Não há nacionalidade que justificasse…

Eu poderia simplesmente não ter torcido. Ou ter torcido por um time que nunca ganhou, como países africanos ou asiáticos. Ou ter torcido para a Holanda, país que tão bem me acolheu nos meses em que passei lá. Por que a Argentina? 

Porque é o país antagônico ao bolsonarista, aquele sujeito que mentiu na campanha eleitoral dizendo que se o candidato deles perdesse, como perdeu, nos transformaríamos numa Argentina. Isso é tão cretino e ofensivo que torcer pelo país vizinho foi a forma que eu encontrei de me solidarizar com eles diante de tamanha injustiça. 

A Argentina, somado a isso, é um país que não colocou embaixo do tapete, como o Brasil, as atrocidades da ditadura militar. O que significa que eu vejo como impossível que lá um candidato que enaltecer um torturador, ou negar a brutalidade do regime, tenha a chance de ser eleito qualquer coisa, especialmente presidente do país. 

Por fim, a seleção joga um futebol gostoso de ver. O segundo gol de domingo, para mim, é o mais bonito já feito numa copa. Foram cinco toques até o chute para as redes do gol. Uma pintura!

Evidentemente eu acho imbecilidade o comportamento do goleiro de postar no lugar de seu pênis o troféu de melhor goleiro da copa.

Evidentemente acho babaquice o torcedor que usa a charge do obelisco, monumento de Buenos Aires, penetrando a Torre Eiffel, monumento de Paris, com a frase sem vaselina, como se o estupro fosse justificável numa situação como essa onde o oprimido vence o opressor.

Somada as imbecilidades de lá com as daqui, noves fora… Gostei do resultado.

Que venha 2026, os três países-sede e nasça uma seleção brasileira que de algum modo me represente. Que venha janeiro com a Copinha e o Paulistinha. Que venha o Brasileirão e o tetra na Libertadores. Que venha o Mundial de Clubes…

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