Não é diletantismo

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Desde o anúncio do lançamento do meu primeiro romance, “O Filho do Açougueiro, que aconteceu em março em São Paulo e será em Sorocaba na última segunda-feira de abril, algumas pessoas se interessaram pelo livro, muitas compraram.

Mas o que me intrigou foi a pergunta de um amigo, engenheiro: Por que você escreveu o livro?

Eu poderia ter dito qualquer coisa e o timming teria dado sequência a nossa conversa, que se dava na padaria, e não haveria espaço para se tecer análise nenhuma sobre o que foi dito. Nas entrevistas, e eu bem sei disso, por ser a essência de meu ofício, o importante é a forma e não o conteúdo, ou seja, é a dinâmica do diálogo. 

Mas eu perdi o tempo e seis, sete segundos depois, entabulei uma resposta elaborada, quase que uma tese que poderia estar em qualquer livro de teoria literária. 

Meu amigo não prestou atenção alguma no que eu lhe disse e rapidamente enunciou sua sentença, que para ele, era a verdadeira resposta à sua própria pergunta: Você escreveu por diletantismo!

Fiquei pasmo!

Diletantismo é dedicação a uma arte ou ofício exclusivamente por prazer. 

Não é isso o que me levou a escrever “O Filho do Açougueiro”. Poderia ter sido por masoquismo, como disse Roberto Bolãnos, o grande escritor chileno morto precocemente, respondendo sobre o ato de escrever.

A verdade é que a pergunta do engenheiro meu amigo me pegou de jeito. Nunca pensei na razão de escrever um romance, numa autoficção, que é o que o livro é. Apenas escrevi. Como já escrevi outros. E outros serão escritos. Escrever é algo tão vital quanto ler. Meus dias são todos em torno dessa realidade desde muito cedo. Desde que me fechava no “bar” de meus pais e deitado sobre a mesa de bilhar eu lia. É entreaspas este bar porque ele não abria mais ao público, mas se manteve intacto sendo um cômodo da casa.

Não vejo sentido algum na pergunta de meu amigo engenheiro. A literatura não tem função.  Não é instrumento de doutrinação. Não é espaço para tese e muito menos de exercícios de retórica. A literatura é o sopro primordial do sentido de viver: Contar e ouvir histórias.

O romance é o assunto de um diálogo do leitor com ele mesmo. Ao contrário de um filme, que dá tudo pronto ao espectador, o livro, um mesmo livro, é diferente para cada leitor que lê interpretando o que está escrito com a bagagem que acumulou ao longo de sua vida. O leitor escreve seu livro quando lê literatura. E isso não é funcional. 

“O Filho do Açougueiro” não é minha forma de contribuir positivamente para o mundo, tampouco é fonte de inspiração, nem mesmo é meu modo de transmitir ideias, histórias e valores que influenciarão a vida de quem o ler. 

Meu livro não tem utilidade. Não é um livro para os insones dormirem. Não é um livro para acalmar. Não sei para o que é, mas sei que não é pra isso. Há sangue e dor em cada possibilidade que escorregam por suas linhas.

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