Aparecido está há seis meses em Sorocaba onde chegou porque ouvir falar que aqui estavam tendo boas oportunidades de emprego. Ele nasceu em Jandira e viveu lá até adulto, saiu, voltou e, agora, está em Sorocaba.
Ele é motorista de aplicativo e foi assim que eu o conheci. Aparecido se esforça para ser simpático e emenda um assunto no outro. Suas atitudes, porém, são bem pernósticas. Assim que me sentei no banco de trás do seu Celta, ou era Ônix?, ele me falou não precisa bater a porta. Mas ela estava aberta, eu não tinha tido tempo de fechar. Eu ia falar, mas resolvi ficar quieto. É assim que eu ando ultimamente, deixando tudo pra lá. E Aparecido decidiu, por si, se explicar: É que o senhor é forte, tem o braço pesado. Eu fechei com delicadeza e com um movimento da cabeça e um esboço de sorriso, percebi que ele aprovou a minha habilidade.
As coisas não estão boas, ele se adiantou em me dizer. E antes que eu falasse algo, ele completou: Mas não é para todo mundo que está ruim. E emendou: No começo do ano eu estava trabalhando na Sky de Jandira e um dia eu estava fazendo o serviço de instalação numa casa quando apareceu o marido da mulher que me atendeu. Eu reconheci ele e falei eu sou o Cido, a gente jogava bola na rua e ele lembrou de mim. Ele me contou das pessoas daquele tempo e falou que Eduardinho ficou bilionário alugando carro de cor branca para as prefeituras e o prefeito botar o adesivo que quiser no carro. Ele me contou que o Eduardinho dava churrascada na casa dele, explicou que é uma mansão com piscina, e quando o convidado chegava ele metia uma nota de 100,00 na mão dele e mais 100,00 quando ia embora. Eu, à essa altura, estava aceso e interessado no assunto e interrompi a narrativa do Aparecido: Mas porque ele dá 200,00 para os convidados? E um tanto surpreso e debochado Aparecido me respondeu: Por que ele pode, oras… O cara tem muito. É para ajudar os amigos.
Eu me perdi em meus pensamentos nessa hora. Não tem nada mais ofensivo do que alguém dar, por dar, dinheiro ao outro. Me incomoda até mesmo casos extremos como o de quem precisa das bolsas do governo inventadas por FHC, mantidas por Lula e Dilma, e agora Bolsonaro. Como alguém pode achar normal que alguém dê dinheiro a um convidado?
Enfim, saí de meus pensamentos e voltei ao carro de aplicativo quando o Aparecido dizia que ele estava tentando entrar no negócio do Eduardinho, mas ainda não havia descoberto o que era lobismo. Eu perguntei: O que? E ele me disse com toda tranquilidade: É… esse negócio do Eduardinho de alugar os carros brancos é lobismo, mas eu não sei o que é isso então tou patinando aqui no 99 até aprender o que é. Eu disse que tem coisa, como essa de lobista, que é melhor a gente morrer sem saber.
Aparecido se enfureceu um pouco e um tanto ríspido me falou: Eu não sou assim não, gosto de aprender o que não sei (sic). E me disse: O Eduardinho chutava mais terra do que bola quando a gente era criança e eu escolhia ele na hora de dividir os times. Ninguém escolhia ele, mas eu escolhia. Agora vou falar pra ele me explicar esse lance. Então eu perguntei porque o Eduardinho não dá uma força e ele disse que o cara tá meio sumido…
Cheguei ao meu destino, feliz por morar longe e ter tido tempo de ouvir a história toda do Aparecido. Ou seria do Eduardinho?
Aliás, já peguei carro de aplicativo duas vezes depois dessa. Um com um empresário sistemista da Fiat, então dono de uma pequena metalúrgica, que faliu na pandemia, tinha 11 funcionários e vendeu tudo para pagar os direitos trabalhistas deles. E outro com um metalúrgico da Bardella que há quatro anos espera receber por parte de seus direitos trabalhistas, mas até agora nada…