Mesmo com o risco do atual presidente ser o beneficiado com a candidatura de Ciro Gomes à presidência da República – me parece que a chance dele desistir em nome de uma unidade do amplo espectro da esquerda de Lula e o centro direita de Alckmin é nula, ao menos neste momento – entendo que o sentido de eleições em dois turnos, como se tem no Brasil para o chefe do Executivo, deve prevalecer mesmo no ambiente atual.
Evidentemente que Ciro agregaria a Lula e Alckmin e, quem sabe, se os números de hoje se mantiverem até o dia da eleição, depois que começarem para valer a campanha difamatória que será descarregada sobre esse projeto de retomada da democracia, haveria a chance de a eleição acabar em 1º turno.
As candidaturas Dória e Moro, por exemplo, imaginando que na ausência deles do pleito os votos a eles endereçados sejam dados a Bolsonaro, neste sentido, pouco significam pois não mudaria o cenário e a eleição não acabaria num turno só.
Os 5% de brasileiros que acreditam no projeto que Ciro tem para o Brasil merecem que ele siga candidato. Isso, porém, não quer dizer que na ânsia de se fazer ver, de se fazer diferente de Lula (pois de fato o é), de fazer com que decole sua candidatura… Ciro precise disparar sua metralhadora sobre Lula e Alckmin. Os eleitores de Ciro não vão para Bolsonaro, afinal.
O que caberia a Ciro, então, neste momento? Sinceramente, acredito que lhe cabe um papel que há tempos não se vê na política brasileira, a daquela pessoa que fala a verdade. Lula e Alckmin vão falar o que o eleitor quer ouvir. Bolsonaro, então, vai falar e fazer o que o eleitor quer. Mas, sabemos, qual a consequência disso: acordos impossíveis de serem cumpridos, promessas que não saem do papel, decepção…
Claro que Ciro tem um projeto para o Brasil e quer que o brasileiro conheça seu projeto. Mas passado um ano desde que Lula posicionou sua candidatura e três anos, 1 mês e 7 dias de Bolsonaro demonstrando sua incompetência o que se vê é que o brasileiro tomou a decisão de olhar no retrovisor. Não quer novidade. Quer o que ele conhece (seja Lula ou Bolsonaro).
Espero que Ciro, caso o cenário fique sem mudança, seja a consciência do político brasileiro. Aliás, tem nome esse papel, é Grilo Falante, personagem fictício que apareceu pela primeira vez em 1940 no desenho animado Pinóquio. Ele é um companheiro sábio e bem humorado de Pinóquio em suas aventuras. Foi criado para ser um tipo de consciência de Pinóquio. Sim, Pinóquio é aquele que mente e o nariz cresce, como os políticos em geral.
Ciro, mostre seu projeto, mas fale a verdade sobre as alianças de Lula de um lado e do presidente do outro. Nós merecemos saber onde estão nos metendo.