Quando o jornal era a referência da informação circulando na sociedade, era muito comum as pessoas, leigas, sem relação com o poder, se perguntarem onde o jornalista achava tanta coisa para escrever.
Algumas, mais críticas, desconfiavam e sabiam que por trás de uma notícia, fosse ela pequena, ou de uma manchete de fora a fora da página, alguém tinha interesses bastante específicos para aquela informação estar ali.
O mundo estava organizado em um ponto de vista. Os leitores convergiam o seu olhar para aquela organização da informação.
Depois as pessoas foram deixando de lado a leitura e preferiam ver a notícia. A TV, então, teve seu domínio. E a lógica foi mantida: a sociedade seguia convergindo seu olhar para um ponto.
A Internet mudou isso através do celular. O acesso à informação com um clique na ponta dos dedos e na palma da mão inverteu toda a lógica. O jornal era acessado num pedaço de papel que precisava ser comprado. A TV era acessada num aparelho grande que dominava a sala na casa das pessoas. O jornal e a TV davam uma informação para milhares e até milhões de pessoas. As redes sociais dão milhares e até milhões de informação para um aparelho na mão do usuário. Ou seja, o emissor das notícias passou a ser qualquer pessoa com o desprezo de toda técnica, lógica e ética jornalística.
Essa situação deu origem às notícias falsas (fake news). O carimbo do autor da notícia (fosse o jornalista ou o veículo), que dava credibilidade ao que era informado, deixou de ser importante. Qualquer um passou a acreditar em qualquer um. O governo Bolsonaro, no Brasil, foi pródigo em fabricar e fomentar notícias falsas, em destruir reputações e arregimentar um exército de cidadãos que por interesse ou ingenuidade acreditava nas mentiras e as propagavam.
Essa praga está aí. A longo prazo, falo em século, a educação talvez seja o melhor antídoto. A curto prazo, tentam achar um caminho.
O governo Lula 3 prepara ações nesse sentido com órgãos do Executivo devendo atuar de modo pró-ativo e judicialmente contra desinformação sobre políticas públicas. “A novidade estaria, por exemplo, em uma atuação da AGU (Advocacia-Geral da União), órgão que representa o governo juridicamente, de ingressar com representações judiciais contra aqueles que veja como autores de conteúdos mentirosos”, informa o portal Poder 360.
Resolve? Eu acredito que melhora muito e de modo imediato, mas… sempre existe um mas… isso pode se tornar uma ameaça à liberdade de expressão se instrumentalizada pelo governo de plantão, ou outro órgão qualquer, como assédio judicial contra críticos e opositores.
Como a solução a longo prazo está longe, como a situação é vexatória (vi o medo hilário bolsonaristas de que o filósofo Michel Foucault, já falecido, iria assessorar pessoalmente o ministro Flávio Dino), como é preciso com urgência de um pouco de paz no ambiente político, talvez valha a pena o risco.