O bananeiro 

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Seo Zé tem um sítio no Vale do Ribeira, ele me disse o nome da cidade, um dia, mas não guardei. Ele planta e colher bananas e as vende. Ao consumidor ele sobe a serra toda sexta-feira para vender numa feira de sábado e outra de domingo, a da Vila Jardini, que é onde eu conheci. 

Seo Zé gosta de conversar e, involuntariamente, sua banca virou uma extensão do boteco que tem na esquina de onde fica sua banca. Homens com 60, 70, 80 anos sentam na calçada atrás de sua banca e ficam horas bebericando cerveja. De vez em quando, um come pastel da banca da frente. E quanto mais perto das 11h, maior é a animação na banca. Os homens não apenas falam alto como falam bobagens, piadas com palavrão.

Nada disso espanta a freguesia. Aliás, se o seo Zé não me reservasse bananas pratas verdes eu seguramente não as encontraria na hora que vou à feira. Eu chego quase na xepa.

Mas ontem o clima estava bastante diferente. Percebi assim que me aproximei. E fui logo perguntando: Tá jururu, seo Zé. O que aconteceu?

Ahhh, seo Deda. Perdi minha mulher… E a voz embargada se silenciou.

Eu conheci a sua esposa. Ela o acompanhou durante muito tempo na feira, mas desde o ano passado não estava vindo.

O que aconteceu seo Zé?

Até agora não sei direito. Na quarta-feira passada ela amanheceu com uma mancha esverdeada no cóquis, não doía, mas tava feio e levei ela no hospital. O médico a internou na hora. Eu fiquei com ela o tempo todo e sexta-feira quando saí para ir no banheiro, na volta ela já tinha ido.

Consegui dizer meus sentimentos ao seo Zé segurando sua mão por cima das bananas.

Ele me disse obrigado e esticou o assunto: Sabe seo Deda, faz quinze dias ela puxou pra uma conversa. Disse que eu fui um bom pai e bom marido nunca deixando faltar nada. Ela me falou que nunca teve outro homem, nunca me traiu e que era feliz nos 56 anos de nosso casamento. Eu falei, mas que assunto é esse mulher, você nunca falou dessas coisas comigo. Ela falou: Agora deu vontade de falar. Será que ela tava sentindo algo, seo Deda?

Eu, atônito com a pergunta, que não esperava, quando me dei conta estava dizendo: Seo Zé, a gente nunca vai saber disso e agora não tem importância isso. O importante é o que ela te falou. É muito amor. O senhor a honrou e ela sentiu isso. É o que importa. 

Seo Zé me agradeceu e eu o agradeci por ter tocado a vida. Seo Deda, eu não tenho vontade de nada, mas os filhos, nora, genro, cunhado falaram que eu tenho que tocar… É muito difícil.  Eu imagino seo Zé. Mas só imagino. O que posso dizer ao senhor é: Siga. É preciso seguir. Eu sei, eu não vou me entregar, ele me disse e completou: Mas são 56 anos na mesma cama. Faz muita falta.

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