A seção Necrologia do jornal Cruzeiro do Sul, edição de hoje, ocupou uma página inteira em razão da quantidade de mortos acumulados entre o final de semana e a segunda-feira, dia que o matutino não mais circula. Normalmente, é um rodapé o espaço ocupado pela seção.
Desde cedo essa página viralizou nas redes sociais com cada um que compartilhava expressando o seu susto, seu medo, sua tensão sobre o perigo do momento em que vivemos. Em cada compartilhamento senti um desesperado apelo: tá vendo como é verdade, a pandemia mata; não saia de casa; não tem remédio preventivo; use máscara…
Confesso: eu senti raiva do jornal, um lugar onde nasci para a profissão e olho com todo o cuidado do mundo, como se fosse meu, diariamente. Bom, olhava. A linha escolhida pelo jornal, de negar o tamanho da gravidade do Coronavírus, me afastou dele. Seguramente esse será o seu maior erro e, estou convicto, a história vai mostrar isso. E começou por hoje.
A seção de necrologia é uma publicidade do jornal. A Ossel, a maior funerária da cidade, há décadas paga para colocar sua marca junto a lista diária de mortos. A Ofebas, por ser entidade dirigida pela maçonaria, assim como o próprio jornal, não sei se paga, mas é certo que também usa sua marca lá. Com isso quero dizer que o conteúdo dessa seção é responsabilidade do departamento Comercial e não o de Jornalismo, portanto não tem edição, não o olho do Conselho Editorial no que ali será publicado, pois é publicidade, é fonte de receita, é espaço vendido.
Justamente na edição de hoje, a grande notícia, a que começou a ser compartilhada logo cedo e assim seguiu durante o dia, é uma publicidade do jornal. Ou seja, é o jornal desmentindo a si mesmo. A que ponto chegamos: a Publicidade dando a verdadeira informação e não o jornalismo (neste caso com j minúsculo mesmo) que passou o ano de 2020 dizendo que se tratava de uma gripezinha, dando respaldo às insanidades do presidente da república, enaltecendo o número de recuperados sem dizer que ele é consequência do número de contaminados, dizendo que as mortes se referem a 0,1% da população, dizendo que sempre morreu gente… enfim.
O movimento pela vacina, liderado pela rádio Cruzeiro FM, Loja Maçônica Perseverança III com a Fundação Ubaldino do Amaral e o próprio jornal é uma luz no fim do túnel para que o fanatismo, o negacionismo e a irresponsabilidade não apareçam mais nas páginas do jornal. Que nunca mais uma publicidade desminta o seu jornalismo.