O homem do carro do ovo

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A revista britânica The Economist – considerada a bíblia dos economistas em todo o mundo – criou em 1986 o Índice Big Mac, resultado da comparação do preço do sanduíche mais conhecido da rede de fast food McDonald’s em diferentes países. 

Esse índice, desde então, passou a ser a medida do método de avaliação da estabilidade de moedas pelo mundo, baseado na Teoria da PPC (Paridade do Poder de Compra). O dólar americano serve como “âncora” para a medição. O índice busca identificar uma relação entre as taxas de câmbio e o valor de mercadorias que as moedas podem comprar.

Quando eu fui editor do jornal Bom Dia quis fazer algo similar, para medir o poder compra do sorocabano, através do preço de uma xícara de café da Padaria Real. A pauta não vingou, mas me lembro que em 2005, quando o jornal foi criado, o café custava 0,50 e hoje está em 3,95; 1 dólar custava 1 real e hoje custa quase R$ 5,00.

Me lembrei de tudo isso ao ouvir, insistente, o vendedor de ovos do lado de fora das paredes do escritório, gritando para atrair o comprador. Ele começou oferecendo uma cartela de 30 ovos, graúdos e selecionados – ele fazia questão de frisar esses dois adjetivos – por 10 reais. Como não atraiu ninguém, ele mudou: Venha conferir freguesia, 30 ovos graúdos e selecionados… troco por 5 cartelas vencidas da Telesena; … troco por 1 bateria velha de carro; …troco por três passes de Vale-Transporte.

Fiquei imaginando se seus ovos estavam perto da data de validade e ele precisava se livrar do produto para não perdê-lo. Mas fiquei com a certeza que a pandemia deixou muita gente sem renda a ponto de não conseguir pagar pelo ovo, a proteína mais barata de nossa dieta.

É certo que a Teoria da PPC (Paridade do Poder de Compra), se viesse a ser aplicada ao sorocabano, através do preço da xícara de um cafezinho ou de uma cartela com 30 ovos, nos assustaríamos com o que empiricamente se sente ao ver cada vez mais gente nas ruas, esperando por alguma ajuda, ou barganhando como o homem do carro do ovo.

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