O lado certo 

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Eu não fazia a menor ideia de quem é Ludmilla até ver uma multidão de cariocas se aglomerando numa quilométrica fila no Hemonúcleo da cidade do Rio de Janeiro para doar sangue.

Os doadores atenderam a um chamado de Ludmilla para este ato de amor. Em troca, cada doador ganhou um ingresso, ou par deles, para um evento que Ludmilla vai fazer num estádio de futebol no próximo sábado. Ela lota um estádio! Menudos, Xuxa e Ivete Sangalo também. Portanto não quer dizer nada. Mas lotar um hemocentro, sim, quer dizer muito. 

O número de doadores na última segunda-feira foi suficiente para que fosse batido o recorde de doações num único dia desde 1944 quando o HemoRio foi criado. 

Ludmilla é cantora de funk, nasceu em 1995, fez sucesso em 2012 num vídeo caseiro no YouTube e há uma década é uma das artistas mais vistas do Brasil. 

Nem assim eu sabia quem era ela.

Ouvi um pouco de sua música e não gostei.

Não sei se ela aparece na TV porque não vejo TV. Não sei se sua música está no rádio porque as rádios e programas que escuto não tocam funk.

Ludmilla e sua liderança é a cara do Brasil do século 21. Um país que corre doar sangue quando essa liderança estala os dedos.

Eu sou doador desde os 18 anos. E sou por uma questão humanitária, por empatia, por acreditar que uma sociedade é formada por solidariedade. Nunca ganhei nem um atestado para abonar o dia de trabalho. Muito menos o faria em troca de um ingresso e menos ainda por um ingresso de Ludmilla.

Não sinto nenhum incômodo com minha ignorância. Se sentisse estaria assinando embaixo do que os algoritmos determinam e, entre outras coisas, além da Ludmilla também estaria dando alguma atenção às imbecilidades do Carlos Alberto, herdeiro da Praça da Alegria, pois esse foi outro assunto “valorizado” nas redes.

Prefiro seguir me dedicando aos meus livros. Eu sei que falo quase sozinho ao fazer isso. Mas eu sei estar do lado certo.

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