É gritante o número de pessoas atordoadas com o comportamento do presidente Jair Bolsonaro em razão de sua mais recente atitude, completamente avessa ao que vinha apregoando.
Seu objetivo foi frustrado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, pelos ministros do STF e pela sociedade de um modo geral. Ou seja, ele queria ter sido preso, encarcerado, tirado à força do seu cargo. Bolsonaro agiu como um drogado que a cada dose aumenta a quantidade de droga até que erra e vem a chamada overdose quando, quase sempre, a pessoa morre.
Bolsonaro não morreu, mas viverá em abstinência nos próximos dias. A adrenalina de ser o ícone do bolsonarismo, de ser o principal foco do picadeiro, de conduzir a massa na sua jornada, que tanto prazer lhe dão, não poderá ser usada.
Em sua ressaca, ele recorreu a Plínio Correia de Oliveira, conhecido por ser o principal fundador e primeiro presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da TFP (Tradição, Família, e Propriedade), entidade civil que inspirou a criação de TFPs em mais de 26 países nos cinco continentes. Não confundir o Plínio da TFP com o Plínio Salgado, do movimento integralista, que se apropriou dos métodos fascistas, embora as posições de ambos se toquem em vários aspectos.
Bolsonaro se fia em Plínio da TFP, a quem “todas as virtudes têm sua importância, mas há especialmente uma sem a qual, não atingiremos as outras: trata-se justamente da virtude cardeal da prudência. Como nos explica São Tomás de Aquino, ela é a “auriga virtutum”, a guia das demais virtudes, pois é a que se encarrega de nos dizer a cada momento e em cada caso particular, o que devemos fazer, ou o que devemos omitir para alcançarmos” nosso objetivo. O próprio Nosso Senhor nos advertiu para que sejamos “prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas” (Mt. 10, 16). Ao logo de sua vida, o Plinio da TFP repetiu reiteradamente um pensamento que sempre foi uma constante em seu espírito: diz ele que “as virtudes são irmãs indissociáveis, que não se pode viver afagando a umas e esbofeteando outras. Por causa desta inter-relação das virtudes entre si, sobretudo no caso da prudência, insistimos no fato que: quem possui esta virtude, certamente terá os meios para praticar também outras; e quem não a possui, certo é que também não possuirá as outras. Assim constatamos uma das importâncias desta bela virtude”.
A Bolsonaro, diante da frustração de não ter sido tirado à força da presidência, resta a prudência neste momento.
Com o amparo dos senhores do Centrão (sempre liderados pelo mesmo Michel Temer dos últimos 40 anos) Bolsonaro tentará oferecer algum tipo de prosperidade à classe média, afim de convencê-la de que ele é o caminho mais seguro nas próximas eleições. O medo em relação a ele, dos senhores do Centrão, é o mesmo em relação a qualquer drogado, de que ele sucumba à vontade de uma nova adrenalina e tenha uma nova recaída. Bolsonaro, como nos informou com todas as letras seu filho Eduardo na última terça-feira com a camiseta que usava com os dizeres “Viemos aqui para mudar o Brasil”.
Bolsonaro, você não me ilude.