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Marlene está na casa dos 50 anos de idade, não tem filhos, é casada. Ela e o marido têm uma pequena fábrica de pastel e vendem este produto em duas barracas que possuem em duas feiras de rua. Não sei se eles próprios começaram esse negócio ou herdaram. Eles empregam 10 pessoas entre sobrinhos (que são empregados fixos e CLT) e atendentes free-lancer que ganham a diária do dia trabalhado, sem nunca conseguir estabelecer vínculo trabalhista. Eles fazem a massa, recheiam, transportam, fritam e vendem. Ela é filha de avós japoneses que imigraram no começo do século 20 para o Brasil e o marido filho de pais japoneses que chegaram aqui depois da 2° Guerra Mundial.

Eu não sou amigo de nenhum dos dois. O marido pouco aparece nas barracas das feiras. Mas já o vi algumas vezes. Ele é baixinho e atarracado de natureza e, também, em razão de exercícios físicos. Sua responsabilidade é fazer compras (farinha, óleo, carne, queijo, temperos…), supervisionar o trabalho de quem faz a massa, corta, recheia e acondiciona em caixas de madeira cada pastel artesanal e, por fim, coordenar a logística (transporte do pastel às feiras). Ele tem experiência para saber quantos pastéis vão a cada barraca sem que ocorra desperdício e, também, falte.

O pastel que até semana passada custava R$ 10,00 a unidade, neste domingo estava custando R$ 12,00. Um aumento real de 20%. A sua justificativa é para o preço do dólar. Historicamente a moeda americana bateu o recorde de seu valor frente ao Real. Ou seja, U$ 1,00 equivale a R$ 6,07. E a farinha de trigo, a matéria-prima do pastel, é comprada fora do Brasil, portanto, comprada em dólar. Na verdade, o pasteleiro está apenas se aproveitando, pois o pastel vendido no domingo passado foi feito com a mesma farinha. Ou seja, com uma farinha comprada quando dólar estava R$ 5,20. 

Logo o pão também terá aumento. Mas como produto básico da dieta diária do brasileiro (o pastel é totalmente supérfluo), o filãozinho não terá aumento imediato. Outros pães, sim. Além disso, a concorrência vai retardar o aumento do preço do filãozinho. O dólar tem impacto também sobre outros produtos que mexerão diretamente ou indiretamente no nosso bolso.

O que não dá pra saber é se esse valor do dólar frente ao real chegou pra ficar. É o novo normal? Ninguém responde a essa pergunta. O fato é que o pasteleiro não vai arriscar. Se o dólar baixar ele não vai voltar seu pastel a R$ 10,00, vai apenas aumentar seu lucro. Seu risco é cultural, ou seja, se o hábito de comer pastel for abandonado ou trocado por outro produto. Aí, se isso acontecer, o marido da Meire vai decidir o que fazer. Até lá terá uma boa poupança.

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