Wilson José Peron morreu na madrugada desta segunda-feira em São Paulo aos 65 anos de idade e pouco se sabe sobre o fato, apenas que ele passou mal por volta das 2h e às 6h estava morto.
Seu corpo foi velado na Ossel de Vila Assis e nesta terça-feira levado ao cemitério Memorial Park.
Foi um choque pra mim esse acontecimento.
Não era e nem nunca fui amigo de Peron, mas nossas atividades (eu editor e ele cartunista) nos aproximaram muito em variadas épocas da nossa vida.
Quando eu era adolescente, tinha 16, 17 anos, antes de ser garçom no Depois, eu frequentava o Armazém, um bar ali na Afonso Vergueiro. Lá conheci Ari Madureira, pessoa de um sarcasmo contagiante, humor refinado, diria um mal-humorado divertido. Nunca o encontrei fora do bar e nem são. Apenas depois é que vim conhecer o seu currículo, saber que era o Marcos César dono de uma história e importância sem igual para o negócio humor, esse que move milhões de reais na TV e mais recentemente em streaming e redes sociais…
Um dia Peron apareceu ali e então não só o conheci como também me familiarizei com o seu talento.
Peron era criador de histórias de humor. Algumas viraram cartoons, outra série de televisão, como O Bronco, e outras propaganda que ganharam vida e ficaram maior do que o produto anunciado. Isso aconteceu com Pacheco, um fanático torcedor do Brasil na Copa de 82 que era para vender Gillette, o aparelho de barbear.
Do Armazém, voltei a me encontrar com Peron quando eu era editor do jornal Cruzeiro do Sul. Dei a ele uma página na recém criada edição de segunda-feira. Era final dos anos 90. Foi um furdúncio. Nos anos 70 ele teve uma página de humor no Diário de Sorocaba onde muitas de suas piadas eram gozação da maçonaria, dona do Cruzeiro do Sul. Pois bem, alguns “irmãos” não aceitaram a coluna dele e não me lembro se ele chegou a fazer a da semana seguinte. A do mês, com certeza não fez.
Depois nos encontramos novamente quando ele ganhou, não me lembro se em definitivo, uma ação judicial que ele moveu contra a cerveja Kaiser fazendo a reivindicação do baixinho, personagem criado por ele e que assim como Pacheco também ganhou vida própria.
Em 2017, revejo agora que ele morreu, recebi uma mensagem dele se colocando à disposição para fazer algum trabalho para este blog. Coisa que nunca aconteceu.
Eu parei de ir de bar em bar. Peron, não. “Ele frequentava ainda muitos barzinhos, sempre q estava em Sorocaba e me chamava pra tomar uma cerveja. Bozó, Frida, New York, Depois, Barbosa Bar, Kingsford foram alguns dos bares que eu estive com ele. A última vez que eu o vi foi em janeiro, quando ele veio conhecer o Carlota”, me conta Will.
O fato é que nós nos víamos ao acaso e sempre nos tratamos respeitosamente. Nunca achei que ele estivesse perto da morte por mais uísque e cigarro que já tivesse consumido.
Ele nunca teve filhos, nem foi casado… Ele sempre foi reservado em sua vida pessoal. Me surpreendi, negativamente, confesso, em saber que ele foi assessor parlamentar nos últimos dois anos na Assembleia Legislativa Paulista do capitão Castello Branco, um dos bolsonaristas eleitos em 2018. O Peron que conheci era crítico, inteligente e a favor da liberdade de expressão e pensamento. Não combina com ele professar a essência bolsonarista. Talvez tenha encontrado amparo financeiro ali num ambiente onde quem não é igual a eles é aniquilado. Talvez não. Will me conta que ele “não tinha simpatia pela esquerda. Certa vez comentei que admirava o Flávio Dino (ex-governador e senador eleito pelo PT do Maranhão) e ele cagou na minha cabeça rsrs, falando muito mal do cara”.
Ante dessa fala do Wil, eu pensei: Deve ter sido dolorido demais pro Peron que eu conheci servir a essa causa agora derrotada nas urnas. Mas, vai ver, foi só uma projeção minha e Peron sempre foi assim.
No Google, quando se procura por Wilson José Peron, aparece seu currículo (Artista plástico e gráfico. Cartunista nos jornais: Movimento, Versus, Folhetim, Pasquim. Como publicitário foi Diretor de Arte nas Agências: Alcântara Machado, Talent, Rino e SGB/RJ. Na televisão foi criador e produtor da série “Bronco”, com Ronald Golias, Renata Fronzi, Nair Bello, Laerte Morrone…), mas nenhuma citação a Sorocaba. O que eu também estranhei. Ele fez a capa do primeiro disco de Eraldo Basso. Ele era colaborador da revista Ego, do Will.
Enfim… Will ainda me contou duas curiosidades a respeito de Peron: Ele hospedou o Raul Seixas numa época em que o cantor estava na pior. E ele era muito amigo do Moacyr Franco e sempre que estávamos nos botecos ele ligava pro Moacyr.
Descanse em paz Peron!