A desenfreada proliferação de uma praga chamada ochô (Oxxo) é apenas um Indicativo do grau de degradação da mentalidade do brasileiro.
É o indicativo visível. Aquele que vem se somar a outros como o baixíssimo nível de leitura, especialmente os romances; o proliferado uso de memes; o altíssimo uso de mensagens de voz ao invés de texto, no WhatsApp; a predileção por videozinhos…
O ochô é o negócio que colocou a pá de cal nos tradicionais pequenos comércios. É o ponto de desova do que há de mais ultraprocessado em termos de alimentos embalados em plástico.
Mas isso é possível de ser notado na distância do tempo. Na percepção de quem viveu de um jeito e vê o jeito que está hoje. Não dá para ver essa degradação quando se cresce em meio da transformação. Ninguém dá conta da própria existência, como são casos de adolescentes, freguesia fixa dos ochôs, nesse ambiente tóxico.
Na minha época de pré-adolescência, quando batia a curiosidade, por exemplo, pelo cigarro, que na época era glamouroso, ficava-se na dependência de algum adulto lhe dar. Era impossível chegar com o dinheiro no bar do seo Pedro, por exemplo, e pedir um maço. Certamente seu pai, à noite, quando parasse ali para tomar uma dose para abrir o apetite, seria informado de sua intenção.
No ochô, atualmente, ninguém cuida da vida de ninguém. Na porta das escolas, os ochôs da vida oferecem cigarro, refrigerante, cerveja e não há quem cuide. O problema é do adolescente e sua família que hoje não é, necessariamente, a de pai, mãe, irmãos, tios e avós.
É um modelo de vida onde se prega que cada um saiba de si. É o enterro da empatia. Se colocar no lugar do pai trabalhador e dizer a ele as intenções de seu filho adolescente é, decididamente, um comportamento do século 20 e absolutamente fora de questão neste primeiro quarto do século 21.
É um modelo de sociedade permissivo com a liberdade, mesmo que isso signifique acesso as drogas, por exemplo. Não é problema meu… se transformou num mantra deste século. Viajar em sensações pessoais é o “normal”. Daí a explosão de consumo de cocaína e seus similares e de drogas sintéticas. Não há a menor chance de “viagem” coletiva. Eu falo o que quero. Eu não quero ninguém se metendo na minha vida. Eu quero botar fogo no mato, eu coloco. Sou livre. Problema seu se te incomoda a fumaça do meu fogo… Este é o século 21.
Isso vai dar em algum lugar, evidentemente. Já está dando. A consequência, infelizmente, é coletiva.
A geração atual, que está no comando do sistema, faixa de 35 a 45 anos, não foi criada para pensar no coletivo, mas em si. Não há percepção para o efeito de suas atitudes no outro. Isso explica a degradação do trânsito de veículos, a degeneração da natureza e as doenças desse ambiente, especialmente as mentais.
Na foto, fogo consome mata nas regiões do Jacutinga, Lopes de Oliveira e Betânia, na zona norte de Sorocaba, e seguem até o Wanell Vile na zona oeste, na noite de 10 de setembro de 2024.