Sempre que posso uso o serviço de Uber. É um modo de entrar em contato com pessoas que lidam com outras pessoas e sentir o que “o mundo” está pensando.
Na segunda-feira passada deixei meu carro na concessionária para um serviço no pneu e embarquei com o motorista Ednaldo. Boa tarde daqui, de lá e, como sempre, fiquei quieto para saber se o motorista tomaria a iniciativa e tomando, qual o tema da nossa conversa. Só este dado, o tema do papo, já é significativo para mim.
O assunto escolhido por Ednaldo foi o Coronavírus, coincidentemente o assunto mais procurado pelo brasileiro na ferramenta de buscas no Google Brasil, segundo divulgou a empresa nesta quarta-feira (9 de dezembro). Os rankings são definidos com base nas consultas que tiveram um grande aumento de pesquisas no Google em comparação com o ano anterior.
Ednaldo começou a conversa me contando que ele havia visto pela manhã que em Londres, na Inglaterra, os motoristas de táxis e aplicativos estavam devolvendo para as locadoras os veículos em razão da queda acentuada na demanda de passageiros. E ele ficou espantado que foram tantos carros devolvidos que as locadoras não tinham onde guardar todos.
A entonação de Ednaldo deixou claro que ele havia acabado de falar e queria saber se eu tinha alguma opinião sobre o tema. E eu disse que os jovens, principalmente, passaram a abusar no desleixo no uso de máscara, álcool em gel e estavam se aglomerando. E perguntei se ele havia visto que a polícia fechou no bairro de Aparecidinha em Sorocaba uma festa Rave com mais de 3 mil pessoas.
Ednaldo disse que não, que não tinha visto isso. Foi curto e grosso e voltou à conversa ao que ele desejava, imaginei eu, desde propôs o tema Coronavírus: mas desse jeito vai dar no que nosso (sic) presidente falou: se não morrer da doença, vamos morrer de fome.
Eu tenho evitado falar de Bolsonaro, seus pensamentos e suas ações. Além de desgastante, percebi que é inócuo. Há uma fé de algumas pessoas nele. Nada do que qualquer um disser vai mudar nada, não apenas o que ele disse como o que pensam os que o defendem. E ia ficar quieto. Mas… lasquei essa: ainda bem que daqui a pouco vamos ter vacina e isso vai ajudar a se encaminhar a volta de nossas vidas à normalidade.
Houve um silêncio dentro do Uber. Como se Ednaldo não tivesse escutado o que eu falei. Mas passado o clímax daquela pausa dramática, Ednaldo me inquiriu, de modo bastante imperativo: o senhor vai tomar a vacina? Senti um certo susto em sua fala. Algo escandaloso. Estava embutida na sua pergunta a resposta que ele queria ouvir. Mas, de novo, lasquei: com certeza que vou.
Ednaldo então começou a ladainha que se tornou bastante comum contra o governador Dória que disse que será obrigatório tomar a vacina e quando me dei conta estava desconcentrado de Ednaldo. Ouvia o som, mas não prestava atenção a nenhuma de suas palavras. Até que de repente, como se fosse subitamente acordado de um sonho, entendi o que Ednaldo dizia e incrédulo resolvi lhe perguntar, num tom estupefato: o que o senhor está dizendo é que a vacina vai ser aplicada para exterminar a humanidade?
Ednaldo confirmou. Isso mesmo e explicou: a vacina entra na pessoa como uma bomba-relógio com data certa para explodir, matar a pessoa a pessoa.
Eu, então, comecei a ser debochado: Mas Ednaldo, a vacina é justamente para o contrário. A ameaça é o vírus Covid19. A vacina é para matar o vírus ou para prevenir que as pessoas fiquem com ele e voltem a ter vida normal, ou seja, morram quando for a hora delas e não por causa da doença Coronavírus.
Não senhor, isso é o que eles falam, o senhor é mais um enganado, me disse Ednaldo. Eu não havia ouvido ainda essa teoria da conspiração e resolvi investigar um pouco: mas Ednaldo, digamos que o senhor esteja certo e a vacina seja mesmo para exterminar a humanidade. Ao menos o senhor sabe qual o propósito disso? Por que “eles” vão querer matar todos?
E a resposta, como toda boa teoria da conspiração, veio cheio de lógica: porque os ricos, os 5% de ricos da humanidade, perceberam que daqui 50 anos todos os humanos estarão sem recursos naturais e o mundo vai acabar. Então, para os ricos viverem eles resolveram matar todos os pobres do mundo e a vacina é o melhor jeito para isso.
Fiquei em estado de choque com tacanho raciocínio. Quando ia voltar à facilidade de mortes ocorrerem pelo vírus, quando pensei em dizer que isso era uma bobagem sem tamanho, Ednaldo continuou: na Nova Zelândia estão construindo um super forno para queimar toda a humanidade que for morta pela vacina. Por isso é uma bomba-relógio, para não morrerem todos ao mesmo tempo e dar tempo de todos serem torrados…
Nova Zelândia? Não tive tempo de perguntar. Cheguei ao meu destino, abri a porta, desci e antes de fechá-la tive tempo de ouvi o conselho de Ednaldo: o senhor é boa gente, não tome a vacina…