O tio que não conheci

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Minha mãe morreu há dez anos e levou para seu túmulo um segredo que nunca mais será desvendado: Por qual motivo ela e seu irmão Sílvio deixaram de se falar. Esse segredo nunca mais será desvendado porque quem morreu agora foi meu tio Sílvio, aos 90 anos de idade.

Em 1967, o ano em que nasci e a mãe dele (minha avó Joana) morreu, ele se mudou para a região de Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos. Depois sua mulher, minha tia Nina, e seus quatro filhos também foram morar lá. Aqui, como o seu pai (meu avô Antônio), meu tio era caminhoneiro e transportava cargas pesadas de Ponta Grossa, no Paraná, grandes toras destinadas às marcenarias e carpintarias. Nos Estados Unidos fez a vida no comércio. 

Eu “descobri” meu tio Sílvio, com quem nunca estive pessoalmente, quando eu tinha 5 anos, talvez 4, ou 6…, enfim, quando um dia apareceu em casa sua mulher, minha tia Nina. Foi um acontecimento. Ela trouxe presentes para minha mãe e entre eles um broche de pedras que imitavam joias muito bem acabados. Uma peça linda que ficou com minha mãe até o final de sua vida.

Meu tio teve um único filho nos Estados Unidos, minha prima Lara, com quem ele viveu seus últimos dias. Lara me contou que sua mãe lhe disse que a minha era uma pessoa doce. Achei um baita elogio e uma bela maneira de explicar quem era minha mãe.

A existência de alguém que você nunca viu ou falou, como era o caso de meu tio Sílvio pra mim, não deveria significar nada. Mas não foi assim comigo. Minha mãe tinha veneração por seus pais (meus avós) e irmãos (meus tios e tias) e isso fez parte de minha vida. Eu sempre os vi pelos olhos de minha mãe e nutri uma admiração por todos. Por suas histórias de vida. Por suas histórias de conquistas. Por suas histórias de resiliência.

Aos meus quatro primos, os filhos de meu tio Sílvio, sobrou o legado de manter vivo o sobrenome Delazari. Até recentemente, os filhos recebiam apenas o sobrenome do pai. Inclusive a esposa incluia o do marido ao seu. Os filhos da minha mãe e suas irmãs não têm Delazari no nome.

Nunca soube se meu tio veio ao Brasil desde que se mudou aos Estados Unidos, mas sei que não visitou minha, se ao acaso esteve por aqui. Sei que nem cartas trocaram. Nem telefonema. Apenas pensamentos. Bom, minha mãe pensava nele. Assim como em suas outras irmãs e no irmão, o meu tio Zé, que morreu semanas atrás e eu também escrevi aqui.

Eles todos acreditavam no céu. Espero que já tenham se encontrado e acertado as diferenças que levaram consigo. Todos tiveram uma boa vida aqui.

Meu tio Sílvio foi cremado e ganhou um memorial New Jersey onde mora minha prima Lara. Apenas um de meus primos, de minha idade, com quem troquei cartas quando era adolescente, mora no Brasil. Outro mora na Itália. Os outros dois, nos Estados Unidos.

Essa é minha homenagem à família de meu tio Sílvio e minha reverência a todos os Delazari.

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