Tudo o que somos na vida é fruto dos passos dados desde que fomos gerados e ainda estávamos na barriga de nossas mães. A sucessão de acontecimentos, em especial as relações que temos com outras pessoas ou com decisões que tomamos, são fatores preponderantes para ajudar cada um de nós a entender o que é e seu papel no mundo.
Me lembro de vários momentos-chaves, vou classificar assim, de minha vida. E alguns deles relacionados ao professor.
Quando estava no parquinho, hoje chamado de pré-escola, tinha a professora Lígia, a tia Lígia. Seu nome é mais forte em minha memória do que a sua feição. Um dia, não sei o motivo, ela me mandou para a sala da diretora e lá, lembro muito da cara dela, de vó, e acho que seu nome era Marina, ali na Vila Santana, junto a quadra do San Remo, passei a tarde toda deitado no tapete branco e felpudo. Me lembro que me acalmei e tive dias mais tranquilos.
Claro que me lembro da dona Terezinha Rocha, minha primeira professora, na 1ª série no Genésio Machado. Da dona Cinira, do seu Cláudio. Me lembro do Nelsão de Geografia, da dona Ida e Tânia de História, da Maria Elisa, Claudemir, Osny de Matemática. Lembro do Boff, do Ronsello da Rita do Senai. O Saviane, Erbolato, Chinaglia na faculdade. Carlos Alberto Di Franco na Especialização. A Irene no Mestrado.
Mas aquele momento-chave eu tive foi com a dona Penha, na 5ª série. Eu não conseguia entender a Língua Portuguesa. Eu não entendia um texto. Eu nem mesmo conseguia ler o que eu escrevia. Eu era péssimo. Eu era o pior aluno daquela sala de aula até a dona Penha se dedicar a mim. A dona Penha viu em mim o que eu obviamente não via e, mais, nem imaginava que tinha: potencial.
E foi a dona Penha que com paciência, amor e dedicação me mostrou que uma oração, uma frase, expressão é formada pela soma de elementos. Sempre tive facilidade com a Matemática, com a lógica que existe em somar, subtrair, dividir ou multiplicar. A Matemática é palpável, a Língua Portuguesa, antes da dona Penha conseguir me mostrar, não era. E foi a dona Penha que me mostrou que só é possível acessar “o mundo” quando se vê e entende que tudo se refere ao Sujeito mais o Verbo mais uma qualificação aos dois (Predicado) e toda a complexidade que vem depois dessa simplicidade. Quando se entende que a palavra é algo que está no lugar da “coisa”. Que o mundo é mediado por representações.
Sempre sou grato à dona Penha. Ao longo do tempo, seja numa efeméride como a de hoje, Dia do Professor, ou em qualquer outra oportunidade, me lembro dela. Dona Penha representa esse profissional, tão maltratado, tão mal reconhecido pelos governantes, que é o Professor. Dona Penha reconheceu o Sujeito que havia naquela criança que eu era. E quando um professor reconhece o Sujeito que está numa criança esse professor muda o mundo.
Eu acredito no futuro, um futuro construído por Professor. Obrigado dona Penha!