Porque o Pá quer a volta da ditadura

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Pá é um nome que ronda a minha vida a partir da boca de um amigo.

Eu e esse amigo nascemos no mesmo bairro, a Vila Santana, frequentamos o mesmo parquinho e também a mesma escola de Ensino Fundamental, a EE Professor Genésio Machado. Eu me tornei jornalista e ele investigador de polícia.

Pá, que é o diminutivo do seu nome Epaminondas, era mais que o melhor amigo desse meu amigo, era seu suporte emocional.

Meu amigo perdeu a mãe quando ainda era muito criança, nunca soube do seu pai e foram suas irmãs que cuidaram dele.

Meu amigo passou a vida sozinha. Sempre achei que o problema fosse os seus modos, ou falta deles. Ele sempre falava alto, era espalhafatoso e tinha um irritante jeito de sempre querer agradar as pessoas. E, recorrentemente, ele sustentava suas opiniões dizendo: mas o Pá…, o Pá isso, o Pá aquilo. O Pá vivia sua vida, mas também se tornou um signo na boca desse meu amigo.

E porque eu falo deles?

Bom, hoje é 31 de março de 2022. E em 31 de Março de 1964 eclodiu o Golpe Militar que ficou até 1985 no comando do país. O atual nefasto presidente do Brasil e seu governo celebraram o golpe. Mas progressistas usaram as redes sociais e abominaram o período de exceção. Um outro amigo, que é amigo do Pá e desse meu amigo desde a Vila Santana, foi um desses progressistas. E em meio os que curtiram e comentaram na postagem dele havia o Pá… Fazendo o que? Pedindo a volta da ditadura.

Então fiquei pensando: Por que o Pá deseja o regime militar?

Me ocorre que naquele mundo da ditadura, onde o governo dizia o que se podia ver, fazer, estudar, pensar… o Pá era feliz. A ele bastava cumprir o que era ordenado. O Pá não precisava pensar e ele adorava aquela sensação confortável de ser burro. Além disso, ele sentia-se útil no silêncio das ruas, das casas, da igreja. Pá era um rosto invisível vigilante. Ele captava o que era “errado” e caluniava, acusava, delatava quem bem entendesse. Pá tinha “poder”. Um poder só possível na ditadura. Em tempos civis, Pá voltou à sua insignificância, um estado que ele não suporta. Pá quer o protagonismo. Quer o poder de vigiar e delatar. Pá quer a atenção que só o regime ditatorial dá a alguém. Pá quer ser feliz, mesmo que para isso seja necessário ser cruel ao próximo. Pá sente-se um civil patriota pronto a colaborar com os militares para nos livrar do comunismo, aquele mesmo que “ameaçava” o Brasil em 64.

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