Quando Emília Moreira da Silva foi acordada com barulhos estranhos, uma mistura de vozes e coisas caindo, pensou que fosse a filha recebendo alguma visita surpresa, que chegou em sua casa fora de hora, contou ela para sua neta Vanessa Castelhano.
Emília ainda nem imaginava que na tarde do dia 29 de setembro de 2021, por volta de 14h, começava o pior dia de sua vida. Um dia pior do que havia vivido quando o mundo estava na 2ª Guerra Mundial, quando o Vietnan foi invadido em 1968, quando as torres gêmeas foram atacadas em 2001, quando o tsunami atingiu a Ásia em 2004.
Emília tem 87 anos e suas dores até agora haviam sido coisas da vida como a perda dos pais, do marido, mas na tarde desta quarta-feira ela perdeu sua privacidade, segurança, sentimento de aconchego, qualidade de vida. Sua casa, na rua Pedro Del Santoro, no Jardim Brasilândia em Sorocaba, foi invadida por um homem jovem, forte e saudável que ela não faz a menor idéia de quem seja. Um homem cujo o rosto ela pode ver a partir das câmeras de vigilância instalada na casa do seu vizinho.
Vanessa também não conseguiu dormir desde ontem. É revoltante, ela conta. Pelas câmeras do vizinho, Vanessa viu que um homem ficou passando na frente da casa de um lado para o outro desde manhã. Olhava, olhava e teve a iniciativa de ver se havia tranca no portão. Nessa hora, um catador de reciclado que conhece dona Emília – aliás toda a vizinhança a conhece, afinal são 60 anos no mesmo endereço – indagou esse sujeito sobre o que ele estava fazendo lá. E o sujeito saiu sem dizer nada. Depois ele voltou com uma barra de ferro na mão e a usou para romper o cadeado do portão da frente da casa.
Ele entrou na casa, revirou a sala e o quarto quando neste momento ele foi flagrado por Vera Lúcia da Silva Castelhano, 61 anos, mãe da Vanessa, que saia do banho. Vera tem a visão e a audição comprometidas, mas percebeu que havia algo de errado com suas coisas todas fora de lugar. Ela começou a berrar quem estava lá e um homem saiu da parte de trás do armário, disse para ela ficar quieta e lhe desferiu um soco no peito, no lado direito, que deixou a região toda roxa com o impacto.
A imagem mostra esse homem caminhando com o aparelho de TV que ele roubou embrulhado no lençol da cama de Vera. Ele caminha como se não tivesse feito nada demais. Mas fez.
De ontem para hoje minha vó e minha mãe não conseguiram dormir e qualquer barulhinho já deixa elas nervosa, agitadas, me conta sua neta. Eu imagino o que elas estejam passando, pois vivi algo parecido, não igual. Eu cheguei em casa um dia e tudo havia sido revirado, apenas o HD externo do meu computador, a câmera fotográfica e uma pasta com todos os documentos foram levados. Fica um vazio inexplicável essa invasão de privacidade. Os primeiros dias são os mais difíceis, depois a gente vai esquecendo, mas nunca é a mesma coisa.
A polícia é protocolar. Os soldados vão até a cena do crime e fazem todas as perguntas, colhem digitais, mas tratam como apenas mais um caso corriqueiro do dia a dia deles. Na intenção de ajudar, acabam machucando ao indicar que a casa precisa de mais proteção.
Vanessa não esconde sua indignação com o ocorrido com sua mãe e avó e, mais ainda, com a necessária providência em razão da invasão: vamos fechar toda a casa com cerca, portas, grades. Minha vó e mãe vão ficar presas para não serem atacadas. É uma inversão muito grande de valores, lamenta. E o pior é que se a gente achar esse vagabundo que fez isso, não dá nem para matar, agredir, nada porque se a gente fizer se iguala a ele. Nós somos pessoas do bem. E são mesmo! Mesmo assim, Vanessa não se nega a falar do ocorrido e, ao contrário, pede que qualquer informação a respeito deste sujeito seja dada para a polícia ou família. Ele não pode ficar impune, afirma ela. Não pode mesmo, eu concordo. Para isso, será necessário a polícia ser eficiente em seu trabalho e esse bandido da foto achado, indiciado e punido pelo seu crime; não apenas o de ter roubado a TV, mas de ter levado a qualidade de vida de idosas que não mereciam ter perdido o sono.