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E não é que o acaso me reservou um providencial encontro com a “tia do zap”… 

Não é nenhuma irmã dos meus pais, literalmente, nem parente ou alguém que eu conheça, apenas essa nova personagem de nossas vidas, pessoas com mais de 65 anos que devotam fé em tudo o que recebem pelas redes sociais e compartilham.

O que aconteceu foi o seguinte: Estava eu no mercado, pegando meus litros de leite Paulista, quando ouço da freguesa ao lado que esse aí (o leite Paulista) não é bom.

Não! Exclamei e sem que tivesse tempo de lhe dizer que há tempos eu tomo e não vejo nada de errado nele, ela deu sua sentença: Este (me mostrando o que tinha em mãos) de caixinha é melhor. Eu nem discutiria o leite em si, mas minha preferência pelo meu se dá pela embalagem. Na organização da minha geladeira, a garrafa é melhor do que a caixa.

Quando imaginei que o assunto estava encerrado, a senhora me diz, mostrando duas caixas do “seu” leite de cabeça pra baixo: Está vendo a bundinha (sic) deles, qual é a diferença? Uma tinha uma marca impressa em preto e a outra uma sequência colorida de códigos impressos. Isso mesmo, ela me disse e completou: Você sabe por quê? Eu disse não. 

Então ela me explicou: Esse aqui, com o impresso colorido, é um leite que já esteve aqui (e me mostrou a gôndola) não foi vendido, devolveram para a fábrica, onde foi colocado mais (o que deu a entender que já tinha um pouco) soda cáustica (sic) e mandaram como leite novo pra gente. 

Fui tão surpreendido pela explicação dela que só consegui dizer: É…

Ela então completou, batendo de leve na bolsa que estava em seu carrinho, me dando a entender que ali estava o seu celular: Eu vi tudo isso no WhatsApp (sic).

Eu ia lhe dizer que o WhatsApp é um meio onde alguém manda e recebe de outro alguém (gente, portanto) alguma informação qualquer. Não se trata (o WhatsApp) de uma entidade com vida própria ou de uma empresa de mensagens para ela dizer que recebeu a informação do leite e soda cáustica….

Por que não disse?

Porque a energia e convicção daquela senhora era espantosa para mim. Ela praticamente trepou na gôndola (foto) do leite Hércules e virou todas embalagens de ponta cabeça em busca das embalagens com o impresso preto. Só tem essa que voltou (impresso colorido), com mais soda cáustica, me dizia e para o que ela tinha uma explicação: As pessoas (sic) viram o que  eu (sic) compartilhei e vieram aqui antes de mim.

Sim, ela me disse isso.

Eu, pensando bem, agora que relato essa experiência, não disse nada à senhorinha porque a julguei. Sim, essa é a verdade. Minha sentença é de que ela é uma imbecil que vive uma realidade paralela onde é possível se ter certeza de qualquer coisa, inclusive de que leite velho se “rejuvenesce” com soda cáustica.

Antes de ir, fiz a pergunta que tenho feito a todas as pessoas que me encontro independentemente das circunstâncias: Você está lendo algum livro no momento? 

A resposta previsível foi hilariante: Isso é coisa do passado, hoje a gente vê vídeo no zap. 

Fiz cara de ahhh é é… E fui embora. 

Em tempo 1: É mentira que qualquer marca impressa na embalagem tenha relação com a quantidade de vezes que o produto retornou à fábrica. 

Em tempo 2: Alguns fabricantes já foram autuados por adicionar produtos químicos ao leite que venderam, inclusive soda cáustica. Foram atos criminosos isolados. Em tempo 3: Os produtos em embalagem tetrapak (caixinhas) alcançam altas temperaturas para matar micro-organismos que, uma vez dentro da embalagem, não se reproduzem. É seguro tomar leite de caixa ou embalagem plástica.

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