Proust 

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Quando entrei no Kolly’s, não esperava nada do lugar a não ser uma garrafa de água com gás e limão espremido… 

A intenção era passar os minutos, esperando pelo pagamento das camisetas do uniforme de minha neta que a avó dela havia comprado na Loja Gianolla, até a minha hora de partir.

Mas fui olhar na vitrine e nesse instante, que nada mais é do que a fração de um segundo, vi ali crostollis. Não posso dizer que estremeci, mas minha boca se encheu de água como costumavam se encher quando era criança.

Então berrei: Moça, eu quero um crostolli. E ela: De presunto e queijo ou simples? Irritado, devolvi: Crostolli… não existe com recheio. Então me levantei e lhe apontei: Esse! E ela: Ahhh, você quer uma cueca virada. Meneei a cabeça afirmativamente e até ela me trazer, lembrei que minha mãe nunca gostou do nome dado aos crostollis no Brasil por ser um nome chulo.

Crostollis são difíceis de serem encontrados. São doces feitos em casa. Era um doce, olhando com a distância do tempo, que minha mãe fazia para me entreter. Eram feitos em dias de chuva quando ninguém podia ir brincar na rua. Dias tristes, na magia de minha mãe, se transformavam em afeto,  serenidade e saborosa calmaria. Ela podia brincar de desenhar, pintar, mas fazia comigo o que estava ao seu alcance, que era cozinhar. Minha função, quando os ingredientes estavam misturados, era sovar a massa. Ela cortava, punha uma parte na outra dando forma ao crostolli, fritava e eu mergulhava aquela delícia, que mais parecia uma borboleta do que uma cueca virada, na mistura de açúcar e canela. Eu adorava comê-los quentes…

Então a moça colocou meu crostolli na minha frente. Esse da foto que ilustra essa postagem. No primeiro bocado, minha primeira frustração. Estava frio, duro, seco… Dois, três, quatro, cinco mordidas…. E a alegria que me dominava desde que vi os crostollis na vitrine se esvaia. Pedi um segundo. Depois o terceiro e a cada bocado a magia sumia. Minha mãe foi ficando cada vez mais distante. A revivência dos meus dias de criança, tão reais e presentes no trajeto do crostolli entre a vitrine e minha mesa, sumiram como fumaça.  Quando me dei conta, já estava praguejando o idiota que usou a regra gramatical da Língua Inglesa, onde o apóstrofo seguido de s indica que é do nome que o precede tal lugar (McDonald’s, bar do MacDonald), para chamar aquele local, no coração de Votorantim, de Kolly’s e não Padaria do Kolly seja lá quem é Kolly. Duvido que exista…

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